® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

ele tem relacionamento com o presidente e o líder do governo, está gerando esse tipo
de matéria. Estamos todos muito tranquilos.” Na época, era uma explicação nebulosa,
mas hoje se sabe que ele se referia à carta de fiança emitida pelo FIB Bank para a
compra da Covaxin e que o relacionamento de Tolentino era com Jair Bolsonaro e o
deputado Ricardo Barros (PP-PR). Já então era evidente que eles queriam me calar.
Num determinado momento, para se livrarem de mim, me ofereceram um carro zero-
quilômetro. Disseram que eu poderia escolher o modelo, de qualquer valor. Eu disse
que não aceitaria. Tenho dois irmãos e não poderia sozinho receber nada que se
referisse ao meu pai. Eu também sabia que esse carro seria uma forma de ganhar
tempo, na expectativa de que eu parasse de importuná-los com a questão do
inventário. Não aceitei.


Em outro argumento para me enrolar, diziam que, tão logo terminasse a CPI, Tolentino
compraria a participação do meu pai nas empresas – um valor que nunca foi estimado



  • e eu poderia fazer o inventário normalmente. Tolentino explicava que, naquele
    momento, entre julho e agosto, centraria esforços em sua defesa e, depois de concluído
    o relatório final da CPI, poderia se dedicar ao meu caso. Disse que, com seus contatos
    no Ministério Público, na Procuradoria-Geral da República e na Polícia Federal, ele
    resolveria seus eventuais problemas rapidamente e logo estaria livre para tratar do
    meu assunto. Nunca mencionou, no entanto, ter qualquer intenção de aparecer como
    acionista. Ele era o sócio oculto. Meu pai era o testa de ferro.


Eu não estava nada tranquilo com aquelas promessas. Minha vida estava sendo
consumida por aquela burocracia e eu não conseguia resolvê-la. Da parte deles, só
enrolação. Para piorar, eles tinham costas quentes porque, a essa altura, já estava
evidente que Tolentino possuía conexões com os poderosos de Brasília, incluindo o
próprio presidente Bolsonaro. O que eu mais desejava, na verdade, era simplesmente
que eles resolvessem as demandas do MP no processo de improbidade e fizessem o
inventário. Tolentino havia prometido cuidar das duas coisas, mas nada acontecia.


Em setembro de 2021, quando completou um ano da morte do meu pai, fui ao


escritório de Tolentino para conversarmos. Fiquei horas por lá. Ele me apresentou a um
advogado que, segundo ele, estava trabalhando diretamente no caso do meu pai.
Chamava-se Ricardo Uchôa. O advogado me disse que atuava para extinguir as ações
de improbidade em Itapevi, o que me deu alguma esperança de que as coisas entrariam

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