® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

selecionadas para o estudo “primeiro em humanos” não eram todas idênticas às que
Claudia e Jan haviam testado em ratos. Incluída por Uğur de última hora, a B2.9
obviamente não fazia parte do estudo toxicológico em roedores iniciado em março.


Claudia foi chamada sem aviso prévio por especialistas da agência, que exigiram uma
explicação. Como o celular ia ficar sem bateria e o filho pequeno estava no outro
quarto, ela precisou se ajoelhar perto de uma tomada para falar com o PEI enquanto
recarregava o aparelho. Nessa posição, reiterou que a BioNTech realizava o estudo com
a chamada abordagem de “plataforma” e seguia a orientação encontrada em uma parte
do relatório da OMS sobre o ebola. Uma candidata bastante similar, a B2.8, fora testada
no “toxicológico” e podia ser considerada uma substituta da B2.9, baseada exatamente
na mesma plataforma do acervo de mRNA da BioNTech. Ambas pertenciam à mesma
família.


A virologista garantiu à entidade reguladora que a BioNTech e a Pfizer logo testariam
também a B2.9 em ratos, mas não daria tempo de fazer isso antes do início dos estudos
em seres humanos em Mannheim e Berlim. “Dissemos que a candidata exata ainda
estava a caminho e que não tínhamos dúvidas quanto a uma equiparação dos
resultados”, afirma Jan, que participou da ligação.


Entretanto, havia um último obstáculo burocrático. No fim de março, em conversas
com Özlem e a sua equipe, a Comissão de Ética do estado de Baden-Württemberg
decretou que todos os participantes do ensaio deveriam ser testados para a Covid- 19
antes de receberem a vacina. Na época, apenas algumas empresas especializadas
realizavam o teste, e o processamento dos resultados demorava pelo menos dois dias.
Até mesmo a Bundesliga, principal liga de futebol do país, que estava suspensa por
semanas, encontrava dificuldades em submeter os jogadores a exames com a
regularidade necessária para que as partidas fossem retomadas com segurança. A
Comissão de Ética tinha sido extremamente favorável em muitos outros aspectos – e
até havia agendado reuniões ad hoc com a equipe e com os órgãos reguladores –, então
essa exigência repentina os surpreendeu. “Foi difícil entender. Quando se tratava desse
assunto, não conseguíamos mudar a opinião deles”, diz Uğur. Depois que suas
contestações se mostraram infrutíferas, Uğur pediu ajuda ao gerente de projetos
Christian Miculka, que ingressara na BioNTech pouco antes, em fevereiro. Christian
ligou na mesma hora para um amigo com quem havia estudado na Áustria trinta anos
antes, funcionário de uma ex-subsidiária da empresa alemã Bosch. Como sabia que a
popular fabricante de eletrodomésticos também produzia o kit de teste de PCR, usado
para os testes padrão-ouro de Covid-19, solicitou um contato na empresa. Horas
depois, quando trocava os pneus do carro sob uma chuva torrencial, Christian recebeu
a ligação do vice-presidente da Bosch. O executivo lhe informou que havia uma

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