® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Do outro lado da Ponte da Amizade, as próprias lojas de mercadorias piratas
abasteciam os feirantes em várias partes do Brasil. Oliveira estacionava o carro no lado
brasileiro, enchia uma mochila com seus CDs piratas para driblar a fiscalização e
entregava tudo aos lojistas paraguaios. Fazia o trajeto várias vezes ao longo do dia.
“Uma vez, voltando do Paraguai, ele me ligou de Londrina. Pediu para eu depositar
500 reais porque tinha acabado o dinheiro da gasolina”, recorda Wagner, o irmão que
então trabalhava como funcionário público da Eletrobras. Quando voltava do Paraguai
para Goiânia, Oliveira trazia seu porta-malas cheio de CDs virgens para uma nova
rodada de pirataria.


O negócio deu certo. Seu telefone começou a tocar, com casas de shows espalhadas
pelo Brasil fazendo contato para contratar a dupla. Como ainda não tinham apelo
comercial, João Neto e Frederico cobravam cachê – e não percentual da bilheteria. O
cachê chegou a 5 mil reais, mas o esquema todo continuava no vermelho. A venda de
CDs piratas era usada para piratear mais CDs e pagar mais jabás, mas o lucro não
vinha. A mudança que colocaria seu negócio no azul veio da iminência de um calote.
Oliveira pediu ao diretor da Rádio Paranaíba, em Uberlândia, que não descontasse seu
cheque de 3 mil reais porque não tinha fundos. O então diretor, Luiz Antônio Pedreira,
perguntou qual era o custo para fazer um CD pirata. “Eu respondi que era 1,50 real.
Era menos, mas eu queria já abater da minha dívida”, relembra ele. Pedreira tinha
contrato para vender shows de Victor e Leo, uma dupla que estava estourando nas
paradas em Goiás e no Triângulo Mineiro, e então encomendou 2 mil CDs de seus
cantores e pediu que Oliveira os distribuísse nas feiras.


Oliveira topou na hora. Além da pirataria terceirizada, percebeu que poderia pegar
carona no sucesso de Victor e Leo. Sem avisar o dono da rádio, gravou os 2 mil CDs
com quinze músicas da dupla e incluiu cinco de João Neto e Frederico. Ainda colocou
uma foto de Victor e Leo na capa, sob o título Explosão Universitária. No canto superior
direito do CD, imprimiu o número do seu celular. As vendas dos CDs piratas de Victor
e Leo explodiram. “Vendi mais de 100 mil cópias”, diz ele. Fez mais do que isso. “As
pessoas me ligavam para falar do Victor e Leo, daí eu explicava que as músicas tal e tal
eram de João Neto e Frederico.” Como todo mundo ganhou dinheiro, nem Victor e
Leo, nem o diretor da rádio Paranaíba, reclamaram da pirataria.


Nesse período, Oliveira achou que tinha encontrado seu caminho. “Esse negócio de
trabalhar com música vai dar certo”, dizia. Ao final de um show de sua dupla, cujo
cachê já estava em 20 mil reais, ouviu de um contratante que, se fosse o caso, pagaria
“muito mais”. Oliveira aproveitou e, inspirado na turma do axé, mudou o contrato de
cachê para percentual da bilheteria. Em uma festa de rodeio de Votuporanga, no
interior de São Paulo, tomou um susto. O contratante reservou um bom hotel, com

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