Um General na Biblioteca

(Carla ScalaEjcveS) #1

verdadeiros artistas, antigamente? Hoje os artistas somos nós, nós que nos
firmamos com a produção e os homens que produzem! Antigamente as funções
criativas se limitavam a juntar cores ou notas ou palavras, num quadro, numa
partitura, numa página... E, aliás, para quem? Para quatro vagabundos, cansados
da vida, que frequentam as galerias e as salas de concertos! Somos nós, os
verdadeiros artistas, que inventamos o trabalho das indústrias necessárias a
milhões de pessoas!
INTERLOCUTOR — Mas a habilidade profissional desaparece no
trabalho manual!
HENRY FORD — Chega! Vocês todos repetem a mesma ladainha! O
contrário é que é verdade. A habilidade profissional triunfa na construção das
máquinas e na organização do trabalho, e assim é posta à disposição mesmo de
quem não é hábil, mas que pode alcançar rendimento igual ao dos mais dotados!
Sabe de quantas peças é feito um Ford? Contando também parafusos e porcas,
são cerca de cinco mil: peças grandes, médias, pequenas ou simplesmente
minúsculas, como as rodinhas de um relógio. Os operários deviam caminhar
pela oficina para procurar cada peça, caminhar para levá-las ao setor de
montagem, caminhar para buscar a chave inglesa, a chave de parafuso, o
maçarico... As horas do dia iam embora nesses vaivéns... E eis que acabavam
sempre esbarrando um no outro, atrapalhando-se nos gestos, se acotovelando, se
amontoando... Era esse o modo de trabalhar humano, criativo, como agrada a
vocês? Quis fazer com que o operário não tivesse de correr para a frente e para
trás pelas oficinas. Era uma ideia desumana? Quis fazer com que o operário não
tivesse de levantar e transportar peso. Era uma ideia desumana? Mandei
colocar os instrumentos e os homens na ordem de sequência das operações,
instalei carrinhos nos trilhos ou em linhas suspensas, de modo que os
movimentos do braço fossem reduzidos ao mínimo. Basta economizar dez
passos por dia de dez mil pessoas e você terá economizado cem quilômetros de
movimentos inúteis e energias mal gastas.
INTERLOCUTOR — Resumamos: o senhor quer economizar os
movimentos das pessoas que constroem automóveis que tornam possível a todos
viverem em contínuo movimento...
HENRY FORD — É a economia de tempo, meu caro senhor, num e noutro
caso. Não há contradição! A primeira publicidade que fiz para convencer os
americanos a comprarem um automóvel era baseada no velho ditado “Tempo é
dinheiro!”. Assim também no trabalho: para cada tarefa o operário deve dispor
do tempo justo, nem um segundo a menos e nem um segundo a mais! E o dia
inteiro do operário deve se inspirar nos mesmos princípios: ele deve morar perto
da fábrica para não perder tempo em deslocamentos. Por isso me convenci de
que as fábricas de médio porte eram preferíveis às mastodônticas... e também
permitiam evitar os grandes aglomerados urbanos, as favelas, as imundícies, a

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