A porta se fechara. Na sala de espera não havia mais ninguém. O cachorro
transportou sua presa para um cantinho, atrás de uma poltrona. Tommaso
torceu as mãos, seu sofrimento, mais que pela perda do colar (não dissera
sempre que não lhe atribuía nenhum valor?), era por ficar em falta com Pietro,
por ter de lhe contar o que havia acontecido, justificar-se... e era também por já
não saber como cair fora dali, e pela perda de tempo naquela situação tão
estúpida e incompreensível para os outros...
— Vou arrancar dele! — resolveu. — Se me morder, peço uma indenização.
— E também se pôs de gatinhas, atrás da poltrona, e esticou a mão para a boca
do cachorro. Mas o cachorro, copiosamente alimentado, e educado na escola
contemporizadora de seu dono, não comia o pão, limitando-se a mordiscá-lo de
um lado, nem reagia com aquela fúria cega característica do carnívoro de quem
se quer arrancar a comida: pelo contrário, brincava com ela, manifestando
certa inclinação felina, o que num cachorrão adulto e taurino como ele era um
sinal bastante grave de decadência.
Os outros da comissão não tinham percebido que Tommaso não os
acompanhara. Fantino estava fazendo o seu discurso e, chegando ao ponto em
que dizia: — ... E estão aqui presentes entre nós homens de cabelos brancos que
deram à empresa mais de trinta anos de suas vidas... —, quis apontar Tommaso,
e primeiro apontou para a direita, depois para a esquerda, e todos se deram
conta de que Tommaso não estava. Teria passado mal? Criscuolo se virou na
ponta dos pés e foi procurá-lo na sala onde estavam antes. Não viu ninguém: —
Deve ter se sentido cansado, pobre velho — pensou — e ido para casa.
Paciência! É tão surdo! Mas podia ter avisado! — E voltou para junto da
comissão, sem pensar em olhar atrás da poltrona.
Agachados lá no fundo, o velho e o cachorro brincavam: Tommaso, com
lágrimas nos olhos, e Guderian, arreganhando os dentes num riso canino. A
obstinação de Tommaso tinha um fundamento preciso: estava convencido de
que Guderian era estúpido e que seria uma vergonha ceder a ele. De fato,
quando, aproveitando-se de suas condescendências felinas, conseguiu dar um
tabefe no pão, de modo a fazer com que a parte de cima voasse, o cachorro
pulou para a meia bisnaga que tinha voado, e na mão de Tommaso ficou a outra
metade, a das pérolas e do coelho. Apropriou-se do colar, tirou os pedaços de
coelho grudados no meio das pérolas, meteu-o no bolso, e enfiou a carne na
boca, depois de ter refletido rapidamente que as mordidas do cachorro no pão só
tinham sido marginais e não haviam chegado ao recheio.
Em seguida, na ponta dos pés, fez sua entrada no escritório do doutor Starna,
bochechas roxas, boca cheia, assobio furioso no ouvido, e se juntou ao grupo dos
companheiros que lhe lançaram olhares enviesados e interrogativos. Gigi
Starna, que durante a exposição de Fantino não levantara os olhos das tabelas
que estavam em cima de sua mesa, como se concentrado nos números, ouviu
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1