Tornou a fechar e trancar a porta. Só por garantia, pôs a correntinha. Se ligasse
para o pai, ele estaria ali em cinco minutos. Podia ser boa ideia.
“Não, Eva”, disse a si mesma. “Agora, faça o favor de controlar a sua psicose aguda
provocada por ter sofrido trauma infantil e por ter ficado sozinha nesta casa de
merda, com uma dívida do tamanho do mundo e...”
Foi quando os viu. Estavam ali na sala, a poucos metros de Eva, como se
morassem ali, como se pertencessem àquele lugar. Moravam na sala, com máscaras
negras que lhes cobriam o rosto. Eva reagiu. Como num sonho, suas pernas
correram devagar demais, como se não conseguisse movê-las rápido o bastante.
Correu para a porta da frente. Um deles a alcançou quando Eva já estava com a
mão na maçaneta.
- Socorro! – ela gritou, e sentiu uma mão lhe tapar a boca.
A mão apertava com força. Eva mordeu a língua quando tentou safar-se. Tinha
destrancado a porta, mas a correntinha resistia a abrir. O outro homem a alcançou
e conseguiu arrancar da corrente os dedos de Eva. Ela gritou, por trás da mão
enorme, e o som foi sufocado. Sentiu que o outro homem a agarrava pelas pernas,
como se Eva não pesasse nada, como se fosse apenas um bichinho indefeso, um
frango ou cabrito a ponto de ser sacrificado, uma coisa tão miúda, que era bastante
lógico alguém tomar decisões sobre ela. Eles a deitaram no chão, no meio da sala.
Eva continuava a gritar por trás da mão, mas não com força o bastante para que
alguém a ouvisse. Será que agora se reuniria a Martin? Iria morrer? Por quê? O que
tinha feito – roubar um celular? O rosto de um dos homens, aquele que lhe tapava
a boca, estava muito próximo do seu. De repente, quando desistiu de continuar
gritando, sentiu seu hálito. Cheirava a damasco. Era isso mesmo? Ou só cheirava a
álcool? Não, talvez a álcool misturado com outra coisa, com menta. Talvez tivesse
bebido umas e outras, para juntar coragem, e depois tentado disfarçar chupando
bala. De súbito, sentiu o toque. Era quase pior do que morte... O outro lhe abriu o
primeiro botão do jeans. Não. Ela resistiria. Em vez de tentar gritar, fechou as