- Aquela na Escócia?
- Acho que foi em 1988. Um Boeing 747 explodiu em mil pedaços a quase dez
mil metros de altura. E depois os técnicos conseguiram juntar de novo o avião. Era
parte da investigação. Dizem que levou anos. – Hans Jørgen a olhou com expressão
ligeiramente solene. – O nosso trabalho é assim. Bastam décimos de segundo para
desencadear um inferno, e depois é um número de horas que não se imagina até que
a gente consiga reunir as provas e juntar tudo de novo no lugar. - Eu respeito muito o seu trabalho – apressou-se a dizer Eva.
- Temos trabalhado em dois. Primeiro juntamos tudo manualmente.
Pegou um dos pedacinhos de crânio, com tanta despreocupação e familiaridade
que parecia tratar-se de um objeto cotidiano qualquer. E era, ao menos para o
legista. - Depois escaneamos cada um dos pedaços, para voltar a juntá-los no
computador. - Parece complicado.
O médico olhou para uma tela de monitor, e Eva se aproximou ainda mais.
Contemplou a imagem granulada, com partes brancas e partes escuras. A imagem
ocupava quase toda a tela. - Parece a Lua – disse Eva.
- Você está vendo as manchas escuras? – O legista as apontou.
Eva estava tão perto de Hans Jørgen que conseguia sentir o cheiro dele. Suor, o
corpo de um homem mais velho, vestígios de desodorante. - São endentações no crânio – ele continuou. – Parece que ele recebeu um golpe.
Aqui dá para ver mais uma, um pouco menor, mas mais profunda. - Endentações?
- Isso. Há pequenas irregularidades que podem ser congênitas, é verdade, mas
estas outras marcas são inconfundíveis. Alguma coisa bateu na cabeça dele. E era
uma coisa pesada.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1