A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Mas existe toda aquela gente que frequenta o lugar no dia a dia. Igual a você,
    antes. Tem que haver algum jeito.

  • Estou começando a achar que você não entendeu nada mesmo. – Tine
    balançou negativamente a cabeça e, enquanto ficava pensando em algo, tirou um
    cigarro do maço. Acendeu e deu a tragada de que tanto precisava; talvez por isso,
    disse: – Os palácios são um pedaço da Idade Média em plena Copenhague. As
    pessoas que acham que a rainha não tem poder são tão ingênuas que merecem uma
    morte bem dolorosa, para deixarem de ser tão ignorantes.
    Eva olhou para ela e viu o sofrimento em sua fisionomia quando Tine continuou:

  • OK, OK, a rainha não dita as leis; ela só as assina. Por isso, as pessoas costumam
    dizer que a rainha não tem poder; que ela não influencia em nada. Como se a única
    coisa com que ela se importasse fosse a educação, a agricultura, os limites de
    velocidade! Os reis não querem saber das necessidades da população. Eles só se
    importam com duas coisas: poder e dinheiro. Você entende o que estou dizendo?

  • Entendo, sim.

  • E como é que eles conseguem o poder?

  • Diga-me você.

  • A rainha possui o poder social, que é o mais importante. Pense na estrutura de
    poder na Dinamarca. Não é difícil; qualquer idiota pode ver quem decide o quê. A
    elite empresarial. E a elite política, aí incluídos alguns do segundo escalão. Depois
    vêm os formadores de opinião; o redator-chefe do Politiken, por exemplo. Você
    diria que esses três quadradinhos abrangem mais ou menos o poder no país?

  • Os sindicatos não?

  • Ora, por favor!

  • OK. O empresariado, a elite política e os formadores de opinião.

  • É uma estrutura de poder absurdamente antiga, absurdamente arraigada nesta
    trama que chamamos de Dinamarca. Quando você está prestes a se tornar alguém,
    eles a convidam para entrar. Pode ser uma festa na casa do seu chefe, algum evento a

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