A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

San Menaio – 13h30


Só de ver o Adriático pela janela do trem, Eva já recobrou todas as forças. O
taxista a tinha deixado num vilarejo à beira-mar e insistido em que ela percorresse
os últimos quilômetros no trem de subúrbio. Eva nunca entendeu o motivo, por
mais que o homem tivesse explicado de três maneiras diferentes – as três, claro, em
italiano. Era baixa temporada, e não havia turistas, só um mar profundamente azul
e um calor mediterrâneo suave. Na praia, um trator de esteira dava voltas
empurrando montes de areia; podiam-se acompanhar do trem esses trabalhos de
limpeza. Eva notou o Hotel Sole e alguns outros que se viam da ferrovia, a qual
acompanhava o litoral; mas não viu nenhum Villa Maria.
Desceu do trem. Não trazia bagagem; estava só com a roupa do corpo. Nesse
instante, percebeu que tinha sido justamente com um lugar assim que, depois da
morte de Martin, sonhara durante meses. Devia ter-se instalado num lugar como
aquele e se tornado uma dama meio misteriosa com quem os rapazes se esforçassem
para trepar; muito embora não quisesse realmente homem nenhum por perto. Seu
coração tinha se endurecido, virado pedra, algo que nenhuma flor silvestre,
nenhuma primavera, nenhum homem e nenhum deus conseguiriam derreter. No
entanto, a gente do vilarejo começaria pouco a pouco a respeitar aquela nórdica
meio biruta. Com o tempo, sua beleza murcharia; seria como uma árvore que
devagar vai secando. Aí pareceria cada vez mais uma maluca, toda descabelada, que
bebia Campari na praça na hora do almoço, que estava sempre bêbada e nunca

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