qual ele também precisava voltar e, por isso, cobrar o dobro. Eva saiu, bateu a porta
e não lhe deu atenção. O taxista continuava gritando para Eva quando ela passou
por cima do monte de cascalho. Era ali mesmo? Talvez o pai não tivesse se
lembrado direito. Tinham falado disso algumas semanas depois da morte da mãe.
Falado da noite de que nunca puderam falar enquanto a mãe ainda estava viva. A
noite que se fixara como trauma não só em Eva, mas também na família toda; a
noite em que Eva, com apenas cinco anos, tinha se perdido num país que não
conhecia. Talvez tivesse sido a experiência daquela noite que fez os pais decidirem
que Eva seria filha única. Fosse como fosse, a opinião do pai era a seguinte: depois
daquilo a mãe tinha se fechado em si mesma; ficara paralisada pelo medo e pelo
sentimento de perda durante as horas em que Eva esteve desaparecida; depois
nunca voltou a ser a mesma. O pai contou que na ocasião, em Roma, a mãe tinha
gritado e chorado. Estava convencida de que tinham sequestrado Eva e de que
nunca tornaria a ver a filha. Quando voltaram para a Dinamarca, se a mãe perdia
Eva de vista por alguns minutos, seu coração já disparava de angústia. Jamais
tornaram a sequer insinuar a possibilidade de terem outro filho. A mãe de Eva já
tinha tido trabalho mais que suficiente vigiando a única filha, aquela menina loira
para quem o mundo era perigoso demais.
Eva seguiu em frente pela beira dos campos. Pinheiros e cigarras. Teve uma ideia:
podia morar também ali, na periferia de Roma, bem longe de tudo e de todos que
tinha conhecido até então, mas imersa no calor e na inebriante experiência da
Antiguidade, como naquele caminho, naquele lugar que fazia pensar nos
movimentos do tempo; no imperador que, montado a cavalo e acompanhado de
uma legião, tinha passado por ali havia dois milênios; nos grandiosos exércitos
romanos que marchavam em uníssono naquele ar poeirento. À noite poderia beber
vinho gelado e pensar nos primeiros cristãos de Roma, na história, em tudo o que
tinha acontecido antes de nós – as guerras, os escravos, os mortos em batalha. Antes
de Eva, outros tinham travado lutas duras e insensatas com poucas chances de
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1