véu entre as duas mulheres. Eva despendeu um instante contemplando o rosto de
Rigmor, fino, um tanto anguloso; restava-lhe ainda um pouco de cabelo preto, uma
lembrança da mulher que tinha sido.
- Você acha que ficou bem?
- Como?
Rigmor fez um gesto de cabeça em direção à revista. - O cabelo.
- Ah! – disse Eva, e deu uma rápida olhada. – A princesa é muito bonita.
- A primeira vez que a vi, juro, quase caí de costas. Era tão linda! Aconteceu o
mesmo com todo mundo. Os homens ficavam de boca aberta. Mas ela é muito fria.
Rigmor tragou fundo e segurou a fumaça nos pulmões por mais tempo que a
maioria. Uma fumante econômica – queria aproveitar ao máximo o alcatrão.
Eva hesitou um instante enquanto passeava ao redor com os olhos. O que estava
fazendo ali? Por acaso Rigmor era algum tipo de especialista em fofocas? Uma
especialista em realeza que, a partir desse seu satélite de observação nos limites da
Dinamarca, registrava as idas e vindas dos membros da Casa Real? Com todas as
suas revistas. Livros. Pratos comemorativos. Numa das paredes, havia uma foto
emoldurada de Rigmor com dois meninos pequenos. A julgar pelo penteado dela,
com ondulado suave e risca no meio, podia ser dos anos 70. - Bem, cá estamos – disse Rigmor.
- Pois é. – Eva tentou azeitar a conversa com um sorriso. – Você está aposentada?
- Acho que se pode dizer que sim.
- Trabalhava em quê?
- Cuidava de crianças. Entre outras coisas.
- Cuidava deles? – Eva se levantou. Olhou para as fotos emolduradas na parede.
- São seus?
Rigmor sorriu. - Meus? É, acho que se pode dizer isso.