Eva percebeu certa impaciência na mulher, que não parava de olhar por sobre o
ombro, como se achasse que estavam sendo seguidas.
- Há uma escada logo ali – disse, e apontou.
Doze degraus. Por algum motivo, Eva os contou, dizendo mentalmente cada
número. A porta que tinham pela frente estava trancada, mas a mulher tinha a
chave. As dobradiças estavam enferrujadas, e ela precisou usar as duas mãos para
abrir. A umidade desapareceu, substituída por um calor seco. A mulher abriu a
bolsa. - Eu só tinha uma – disse, e tirou de lá uma lanterna. Apontou o facho para cima.
A tubulação que percorria o teto revelou qual era a fonte de calor. - Tomara que sirvam em você – disse a mulher, iluminando dois pares de
galochas. – Pode ser que haja muita água lá embaixo.
Eva hesitou. A outra tirou os sapatos e calçou as galochas. Eva seguiu o exemplo.
As galochas ficaram meio grandes. - Tudo bem?
- Tudo.
- Agora a gente precisa descer dois degraus. Depois, vai dar na água. Cuidado,
que escorrega bastante.
Eva enfiou o pé na água, que tinha só alguns centímetros de altura. O cheiro não
era bom. Cheirava a água salobra ou esgoto. - E agora a gente vai ter que andar um pouco.
“Um pouco ou muito?”, pensou Eva quando já estavam avançando em silêncio
fazia uns tantos minutos. O nível da água tinha subido talvez uns dez centímetros, e
o olfato de Eva não dava sinal de ter-se acostumado. Pelo contrário: o mau cheiro
ficava pior a cada passo que dava. - Cuidado com a cabeça. A passagem aqui fica mais estreita. Você consegue
aguentar o cheiro? A água se infiltra por todos os lados. Frederiksstaden foi
construída por cima de um brejo. É muita areia movediça e muita água de lençol