O nível da água continuava a subir. Avançaram mais uns cinco metros e, aí,
tiveram que aguentar quando a água lhes chegou acima das galochas. Eva sentiu
aquela água fria e nojenta molhar os dedos dos pés. Seguiram em frente pela rota
régia de fuga. Talvez a rainha e os filhos a tivessem usado quando o marido os
perseguiu. Continuou pensando. Todas as casas deveriam ter um túnel como
aquele, para que as pessoas escapassem sem ser vistas e pudessem recomeçar a vida
do zero. Talvez fosse um projeto para o pai quando, ao fim de três anos, ele
concluísse a casa de Hareskoven.
- Estamos quase chegando – disse a mulher, e apontou.
- Chegando aonde?
- Está vendo aquela escada ali?
Eva olhou. A mulher a iluminou com a lanterna. A mancha de luz era como um
olho em meio à escuridão. - Está meio solta, mas dá para usar.
Aproximaram-se. Eva olhou para a escada de metal enferrujada, de talvez um
metro e meio de altura, que estava chumbada à parede. A mulher parou. Era outro
daqueles momentos em que ficavam paradas sem dizer nada. Será que a mulher
estava prestando atenção, tentando ouvir alguma coisa? - A escada dá onde?
- Muito bem – disse a mulher, sem responder. – Eu subo primeiro. Segure a
lanterna.
A mulher passou a lanterna para Eva e se agarrou com força à escada. Depois
colocou o pé no primeiro degrau e começou a subir. Eram seis degraus, até uma
pequena abertura no alto. A mulher enfiou os braços por ali, tomou impulso e
ergueu-se pelo buraco. Eva a ouviu dizer: - O chão pode estar escorregadio. Passe-me a lanterna.
Eva a seguiu escada acima, pela abertura. - Aqui não dá para andar ereta – avisou a mulher, que tinha começado a falar em