A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1
O diretor voltou a tomar a palavra.


  • A prefeitura tem um protocolo que nós, como instituição, devemos seguir na
    hora de lidar com o falecimento de parentes próximos. Podem ficar sossegados; não
    pretendo ler o protocolo em voz alta, aqui e agora. Mas cabe salientar que vocês
    devem prestar atenção especial ao Malte durante um tempinho. Ele tem
    necessidades específicas. Se perceberem que...

  • A Laura perdeu o pai ano passado – disse Kamilla, interrompendo Torben. –
    Laura, a da Sala Vermelha.

  • Perdeu o padrasto – corrigiu-a Mie. – Ele era arquiteto.

  • Mas tinham vivido debaixo do mesmo teto a vida toda – disse Kamilla. – Laura
    o via como pai.

  • Justamente – disse Torben. – Essas coisas podem acontecer a todos nós.
    Doença, acidentes... Por isso nós, como instituição...

  • Então não é preciso fazer nenhuma reunião como esta – disse Kamilla, que
    voltava a interrompê-lo. – Era só mandar e-mail para todos nós, e depois muito
    bem, é isso aí, mais nada.

  • O que você está querendo dizer? – perguntou Anna.

  • É isso aí. Ou por acaso a gente precisa fazer distinções?
    Agitaram-se. Eva notou na hora. Não ouviu, porque ninguém disse nada, mas
    uma coisa lhe chamou a atenção: todos pareceram aproveitar o momento para
    mudar de postura, enfiando as mãos nos bolsos, ou levando-as à cintura, ou
    trocando a perna de apoio.

  • Não se trata disso – disse Torben, claramente irritado. – E a verdade é que eu
    achava que já tínhamos discutido o assunto ontem, quando você insinuou coisa
    parecida. Era outro contexto, mas mesmo assim...

  • É, estávamos falando da nossa comissão de arte. A diferença de tratamento
    pode ter muitas caras, e nenhuma delas acaba sendo muito bonita. – Kamilla deu
    um passo à frente e conseguiu parecer ainda mais ameaçadora. – Para ser sincera, se

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