40 • Público • Sexta-feira, 1 de Novembro de 2019
CULTURA
Fotografia
Banksy Captured, 252
páginas com as fotografias
de Steve Lazarides,
colaborador de Banksy
ao longo de 11 anos
Vemos Banksy, e nunca estivemos
tão perto de o ver, mas ainda não o
vemos realmente. Assim podemos
resumir aquilo que nos mostra
Banksy Captured, livro de 252 pági-
nas da autoria de Steve Lazarides,
que foi durante 11 anos agente, fotó-
grafo e motorista do mais famoso
artista de arte urbana, cuja identida-
de se mantém desconhecida.
A colecção de fotos incluídas na
obra, a publicar brevemente, são
inéditas, seleccionadas de um acervo
de cerca de 12 mil, e apresentadas
pelo autor como “uma viagem fasci-
nante a anárquica pelos bastidores
do homem misterioso que se tornou
um dos artistas mais famosos do
mundo”. As fotos, que Steve Lazari-
des também disponibiliza para ven-
da individual no seu site, mostram os
locais, urbanos ou campestres, em
que as obras foram realizadas, bem
como retratos das suas acções públi-
cas. De maior interesse para os inte-
ressados em desvendar o enigma
Banksy serão as fotograÆas que retra-
Ainda não
é desta
que vemos
Banksy
Uma década de Revolve
no Mucho Flow mais
ambicioso de sempre
Iceage ou Heavy Lungs
vão estar na 7.ª edição
do festival vimaranense
que hoje arranca em três
espaços da cidade
Festival
André Borges Vieira
Em meados da década de 1990,
Miguel de Oliveira aborda Bruno
Abreu com um par de álbuns que
achava ser do melhor que tinha
encontrado no cenário musical da
altura. O segundo estava no projecto
Rádio Escola na secundária Francisco
de Holanda, em Guimarães, que os
dois frequentavam. Ainda que com
dúvidas, guardou os CD que o primei-
ro lhe entregou para eventualmente
passá-los.
Nos tempos que se seguiram cru-
zavam-se nos corredores do estabe-
lecimento de ensino e iam trocando
umas palavras — unia-os sobretudo a
música. Daí até formarem uma banda
foi um passo. Na viragem para o novo
milénio a amizade solidiÆcou-se.
Pouco tempo depois mudam-se
ambos para o Porto, onde encontram
uma oferta de concertos inexistente
naquela época no sítio onde nasce-
ram. Na Invicta apareciam promoto-
ras como a Mouco, a Lovers &
Lollypops ou a AmpliÆcasom a dina-
mizarem espaços de pequena dimen-
são com bandas emergentes e de
nicho. De Guimarães sempre saíram
bandas, mas o circuito interno de
espaços para tocar não abundava.
Faltavam também promotoras. Tudo
somado só havia uma coisa a fazerem.
Puseram mãos à obra e fundaram a
Revolve, que hoje e amanhã celebra
uma década de actividade na organi-
zação de concertos, agenciamento de
bandas e edições, na 7.ª edição do
Mucho Flow, este ano numa versão
alargada a dois dias e a três espaços
da cidade.
O primeiro passo foi dado em 2009,
num bar do centro histórico de Gui-
marães. Arrancam em grande com
concerto de White Hills. Em conversa
com o PÚBLICO dizem que não foi
fácil obedecer a horários. Cumprindo
uma velha tradição portuguesa que
agora se vai perdendo, o público não
estava habituado a aparecer à hora
marcada.
Em 2010 organizam um par de
concertos no Porto, em parceria
com a Lovers & Lollypops e depois
outros em Guimarães. Em 2013, com
a entrada de mais elementos, aven-
turam-se nas primeiras edições ao
lançarem os álbuns de Pontiak e
Papaya. É a partir daí que iniciam
também uma agenda regular de con-
certos em espaços da cidade como
o café-concerto do Centro Cultural
Vila Flor, o bar da Associação Conví-
vio ou o Centro para os Assuntos da
Arte e Arquitectura (CAAA). Ao mes-
mo tempo vão surgindo novos artis-
tas na cidade, como é o caso de Cap-
tain Boy, Paraguaii, Gobi Bear e
Toulouse — os últimos parte do catá-
logo da Revolve.
No mesmo ano, na sequência do
ciclo dos concertos Indiesciplinas,
organizado ainda no âmbito da Gui-
marães 2012 — Capital Europeia da
Cultura, arrancou a primeira edição
do Mucho Flow. Tinham em carteira
a oportunidade de levar a Guimarães
DR
os chilenos Föllakzoid. Os chilenos
acabariam por desmarcar a tournée
europeia, mas o festival fez-se na mes-
ma, ao ar livre, nas ruas da cidade, e
ainda sem bilheteira. No ano seguin-
te, com Amen Dunes e Bitchin Bajas
— que mais tarde explodiram —, já
com entrada paga, passaram para o
CAAA, onde até ao ano passado
decorreu o festival. À 7.ª edição assen-
tam arraiais em três espaços — CIAJG
(Plataforma das Artes de Guimarães),
Edifício dos CTT e São Mamede CAE.
É a versão “mais ambiciosa” do festi-
val, dizem-nos, porque é ano de cele-
bração da promotora, mas também
porque sentiram a necessidade de
“dar o salto”.
Bandas emergentes
O festival aponta a mira sobretudo
para bandas emergentes. Não são
poucas as vezes em que apostam em
artistas que depois dão cartas no
cenário internacional. Ainda no ano
passado aconteceu com os britânicos
black midi, que chegaram a Guima-
rães sem álbum gravado. No Mucho
Flow deram o primeiro concerto fora
do Reino Unido. Hoje têm datas mar-
cadas por todo o lado e são uma das
revelações do último ano.
No cartaz desta edição há outros
nomes com o mesmo potencial. Os
também britânicos Heavy Lungs
serão os que mais se aproximam des-
sa posição num alinhamento eclécti-
Não são poucas
as vezes em que
apostam em
artistas que
depois dão cartas
no cenário
internacional
A colecção de
fotos incluídas na
obra, a publicar
brevemente,
são inéditas
e seleccionadas
entre 12 mil
tam o artista em acção. A identidade
não será revelada — Banksy ora surge
de costas, ora tem o rosto escondido
por uma bola vermelha.
Steve Lazarides, nascido em Bris-
tol, tal como Banksy, iniciou a sua
colaboração com o artista em 1997.
Numa entrevista em Setembro ao Art
Newspaper, defendia ter testemu-
nhado e participado nos “melhores
anos” de Banksy. Marchand de arte
urbana há quinze anos e tornado
galerista em 2018, Lazarides aban-
donou agora ambas as actividades.
A julgar pelas suas palavras, não terá
saudades. “Nunca quis ser a porra de
um galerista”, declarou ao Art News-
paper.
co que conta com o regresso dos
Iceage a Portugal, Amnesia Scanner,
Croatian Amor, CTM, Damien
Dubrovnik, Hiro Kone, Born in Fla-
mez, BbyMutha, Holocausto Canibal,
Jasss, Djrum, Mun Sing, Gabriel Fer-
randini, Tendency, e DJ Lynce. Do
catálogo, a Revolve seleccionou os
Montanhas Azuis, compostos por
Norberto Lobo, Marco Franco (tam-
bém vai tocar a solo), Bruno Perna-
das, e Chinaskee e Dada Garbeck, que
em Agosto passaram em Lamego pelo
ZigurFest.
Passaram dez anos desde que a
Revolve foi fundada e mais de 20 des-
de que a dupla que agora trabalha
com mais oito pessoas se conheceu.
Hoje têm no currículo aproximada-
mente três dezenas de álbuns edita-
dos, sete bandas agenciadas e a res-
ponsabilidade de organizar este even-
to e outros como o festival Vai-m’à
Banda. Entretanto, Guimarães já não
é a mesma cidade e o advento da
Capital da Cultura a oferta da progra-
mação e de espaços aumentou.
Esta primeira década de Revolve,
os dois fundadores descrevem-na de
uma forma sucinta: “São dez anos a
perder dinheiro.” Se isso os vai demo-
ver? “De forma nenhuma”, respon-
dem. Quanto aos discos que serviram
de ponte para que se conhecessem
Miguel de Oliveira diz que nunca os
voltou a ver. Bruno Abreu jura a pés
juntos que não Æcou com eles.
Foi em Guimarães que os britânicos black midi deram o primeiro concerto fora do Reino Unido