Público - 01.11.2019

(Ron) #1
ípsilon | Sexta-feira 1 Novembro 2019 | 33

M/6 Este programa pode ser alterado por motivos imprevistos

CENTRO CULTURAL DE BELÉM


3 NOV 2019–17H


ORQUESTRA


SINFÓNICA


PORTUGUESA


Direção Musical
Joana Carneiro

SINFONIA N.º 9


EM RÉ MAIOR


Gustav Mahler


Coprodução A Nissan e o idealista apoiam o TNSC

T. SINFÓNICA 19-20


http://www.saocarlos.pt

Dream Time,
solo de piano
integralmente
improvisado,
e The Balance,
com
repertório
novo e outro
retrabalhado,
foram os dois
álbuns por
este jovem
hiperactivo,
de 85 anos,
em 2019

Budo. Homem profundamente espi-
ritual, fala sempre na primeira pessoa
do plural, gregarismo que rima com
a referência às “comunidades” — as
africanas com que cresceu de perto,
mas também, num plano mais abs-
tracto, as “comunidades humanas”
— sempre que fala de pessoas e tra-
dições, conhecimento ancestral e
música ou Budo (conceito japonês
que designa o conjunto de artes mar-
ciais modernas e que, significando à
letra O Caminho Marcial, é entendido
como a via a seguir para atingir um
modo de vida ou estado de existência
previamente formulado).
“O Caminho [The Way] é o mesmo
para todos eles”, repetirá ao longo de
uma entrevista em que o seu discurso
saltita, matreiramente, entre a abs-
tracção e a concretude, o desconcer-
tante e o poético, o críptico e o caús-
tico. E ele que nem é do free jazz...
Dream Time, solo de piano improvi-
sado, e The Balance, com repertório
novo e outro retrabalhado, foram os
dois álbuns por si editados, qual jo-
vem hiperactivo, em 2019.

The Balance: depois de tantos
anos a ensinar, a gravar, a tocar,
a viajar, porquê este título? De
que “equilíbrio” se trata aqui?
Há uns anos, fomos apresentados à
Gearbox [selo inglês] pelo John
Cumming, que é quem organiza o
London Jazz Festival. No ano passado,
tocámos no festival e, no dia anterior
ao concerto, pensámos em gravar. A
Gearbox concordou e fomos para um
estúdio em Londres. Gravámos músi-
cas novas e revisitávamos outras anti-
gas. Pudemos gravar o que sentíamos
— e chegámos a um ponto muito per-
to da perfeição.
Nasceu numa família com
ascendência mista. A sua avó e a
sua mãe tocavam e cantavam
ambas na igreja. Foi lá que
começou a despertar para a
música?
Essa ideia de ascendência “mista”, de
“mistura”, é algo que foi criado, sabe?
Foi uma ideia forjada pelo regime,
que dizia quem nós éramos e o que
éramos. Nós não aceitamos essa ideia
de “mistura”. Se for esse o caso, então
somos todos mistura. Somos seres
humanos. A música e a espiritualida-
de das nossas tradições eram e conti-
nuam a ser o motor da busca por

undo”


“Essa ideia de


ascendência ‘mista’,


de ‘mistura’, é algo


que foi criado, sabe?


Foi uma ideia forjada


pelo regime [do


apartheid], que dizia


quem nós éramos


e o que éramos. Nós


não aceitamos essa


ideia de ‘mistura’.


Se for esse o caso,


então somos todos


mistura. Somos


e seres humanos”

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