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Às cinco da tarde, Rune Ivarsson atendeu o telefone da sua casa em Østerås
para dizer a quem lhe ligava que a sua família acabara de se sentar para
comer. As refeições eram sagradas naquela casa. Importar-se-ia de ligar mais
tarde?
– Desculpa estar a interromper-te, Ivarsson. É o Tom Waaler.
– Olá, Tom – disse Ivarsson, com uma batata meio-mastigada na boca. –
Ouve...
– Preciso de um mandado de prisão contra Harry Hole. Bem como um
mandado para revistar o seu apartamento. Mais cinco agentes para efectuarem
a busca. Tenho motivos para acreditar que Hole está envolvido num caso de
homicídio, de um modo muito pouco aconselhável.
A batata desceu pelo lado errado.
– É urgente – disse Waaler. – Existe o risco de as provas poderem ser
destruídas.
– Bjarne Møller – foi tudo quanto Ivarsson conseguiu dizer por entre o
ataque de tosse.
– Certo, eu sei que isto é da responsabilidade de Møller – respondeu
Waaler. – Mas aposto que concordas comigo que ele é parcial. Ele e Harry
trabalham juntos há dez anos.
– Tens uma certa razão. Mas tivemos outro trabalho para fazer esta tarde,
por isso os meus rapazes estão de mãos atadas.
– Rune... – Era a mulher de Ivarsson. Ele sentia uma certa relutância em a
provocar. Chegara vinte minutos atrasado depois da celebração com o
champanhe, e de seguida o alarme disparara no Den norske Bank, no balcão
de Grensen.
– Já te ligo, Waaler. Vou telefonar ao procurador e ver aquilo que posso
fazer. – Pigarreou e acrescentou numa voz suficientemente alta para a mulher
o ouvir: – Mas só depois de termos jantado.
Harry acordou com alguém a bater-lhe estrondosamente à porta. O seu
cérebro concluiu automaticamente que a pessoa já estava a bater há algum
tempo e tinha a certeza de que Harry estava em casa. Olhou para o relógio.
17h55. Estivera a sonhar com Rakel. Espreguiçou-se e levantou-se.
Mais pancadas. Com força.