Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

V


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SOS


igdis Albu acordou ao ouvir Gregor a ladrar no exterior. A chuva
tamborilava no telhado. Olhou para o relógio. Sete e meia. Devia ter
adormecido. O copo à sua frente estava vazio, a casa estava vazia, estava tudo
vazio. Não fora assim que ela planeara as coisas.


Levantou-se, dirigiu-se à porta do terraço e olhou para Gregor . O animal
estava virado para o portão com as orelhas e a cauda viradas para cima. O que
é que ela devia fazer? Dá-lo? Mandar abatê-lo? Nem sequer as crianças
tinham sentimentos muito fortes por aquela criatura nervosa e hiperactiva. O
plano, sim. Olhou para a garrafa de gim meio-vazia sobre a mesa de vidro.
Chegara o momento de arranjar um novo plano.


O ladrar de Gregor atravessou o ar. Au , Au ! Arne dizia que aquele ruído
irritante era tranquilizador; dava-lhe a vaga sensação de que alguém estava
alerta. Dizia que os cães conseguiam cheirar os inimigos, porque esses
exalavam um cheiro diferente dos amigos. Decidiu que iria ligar ao
veterinário no dia seguinte; estava farta de tomar conta de um cão que ladrava
de cada vez que entrava na sala.


Abriu um pouco a porta do terraço e escutou. Por entre o ladrar do cão e a
chuva, ouviu o cascalho a ser pisado. Teve apenas tempo para escovar o
cabelo e limpar um risco de rímel sob o olho esquerdo antes de a campainha,
um presente de boas-vindas dos sogros, libertar as suas três notas do Messias
de Handel. Tinha a sensação de que sabia quem era. Estava certa. Quase.


– Agente? – disse, genuinamente surpreendida. – Que surpresa agradável.
O homem na entrada estava ensopado. Gotas de água pendiam-lhe das
pestanas. Tinha um braço encostado à soleira da porta e olhou para ela sem
responder. Vigdis Albu abriu completamente a porta e voltou a semicerrar os
olhos:


– Quer entrar?
Conduziu-o até à sala e ouviu o som de sapatos a chapinhar atrás dela.
Sabia que ele gostava daquilo que via. Ele sentou-se numa poltrona sem

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