constitui uma ameaça? Quem é tão frio e calculista que pode colocar o teu pai
num dilema, e saber qual a escolha que ele irá fazer? Para o poder abater e
fazer aquilo que lhe apetecer com o jovem agente assustado? Quem é esse
indivíduo? Beate?
As lágrimas corriam-lhe por entre os dedos.
– Ras... – fungou ela.
– Não ouvi, Beate.
– Raskol.
– Sim, Raskol. E apenas ele. A sua resposta foi furiosa. Eram ladrões, não
assassinos, disse. O outro assaltante foi suficientemente estúpido para
ameaçar entregar-se e denunciar Raskol. Por sorte, consegue fugir da Noruega
antes que Raskol o consiga apanhar.
Beate estava a soluçar. Waaler esperou.
– Sabes qual é a coisa mais engraçada a respeito de tudo isto? Que tenhas
sido recebida pelo assassino do teu pai. Tal como aconteceu com o teu pai.
Beate levantou a cabeça.
– O que é... o que é que queres dizer com isso?
Waaler encolheu os ombros.
– Vocês pediram a Raskol que denunciasse o assassino. Ele anda atrás de
alguém que ameaçou testemunhar contra ele em tribunal, num caso de
homicídio. Então o que é que ele faz? Claro que aponta essa pessoa.
– Lev Grette? – Secou as lágrimas.
– Porque não? Assim, podiam ajudá-lo a encontrá-lo. Li que vocês
encontraram Grette pendurado de uma corda. Que ele se suicidou. Eu não
apostaria nisso. Não ficaria surpreendido se alguém tivesse chegado a ele
antes de vocês.
Beate pigarreou.
– Estás a esquecer-te de alguns pormenores. Antes de mais, encontrámos
uma carta de despedida. Lev não deixou muita coisa escrita, mas falei com o
irmão dele que encontrou velhos cadernos de Lev no sótão de Disengrenda.
Levei-os a Jean Hue, o especialista em caligrafia da Kripos , e ele confirmou
que a carta foi escrita por Lev. Em segundo lugar, Raskol já está preso. Por
vontade própria. Isso não se encaixa com a intenção de cometer um homicídio
de modo a evitar uma pena.