— Inglês da KGB — explicou ela. — Passei um tempo com o sotaque
de um locutor da Rádio Central de Moscou.
— Quando você conheceu os seus novos pais?
— Eu tinha uns 5 anos. Nós vivemos juntos num campo da KGB por
um ano para nos conhecermos. Em seguida, nos acomodamos na Polônia.
Quando a grande migração polonesa para Londres começou, nós fomos
junto. Os meus pais da KGB já falavam um inglês perfeito. Eles criaram
identidades e se engajaram em espionagem de baixo nível. Sua principal
função era cuidar de mim. Nós nunca conversávamos em russo dentro de
casa. Só inglês. Depois de um tempo, até esqueci que era russa. Eu lia livros
para aprender a ser uma garota inglesa adequada: Austen, Dickens,
Lawrence, Forster.
— Uma janela para o amor.
— Assim como a Lucy, eu só queria um quarto com uma bela vista...
— Por que a casa em Basildon?
— Era a década de 1990 — explicou ela. — A Rússia estava falida. O
SVR estava em frangalhos. Não havia orçamento para sustentar uma família
de ilegais em Londres, então nós fomos para Basildon e recebíamos seguro-
desemprego. O Estado britânico do bem-estar financiava uma espiã.
— O que aconteceu com o seu pai?
— Ele contraiu a doença da ilegalidade.
— Perdeu o controle?
Ela assentiu.
— Disse ao Centro Moscovita que queria sair dali. Caso contrário, iria
até o MI5. O Centro o levou de volta para a Rússia. Só Deus sabe o que
fizeram com ele.
— Vysshaya mera.
— O que isso significa?
— Não importa.
Agora nada além daquela garota importava, pensou Gabriel. Ele
olhou para a praça e viu Lavon batendo os pés no chão para se aquecer.
Madeline também o viu.
— Quem é ele?
— Um amigo.
— Um vigia?
— O melhor.
— É bom que seja.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1