A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Stoltenberg, como qualquer bom agente, inutilizara a luz interior. Ao luar,
Delaroche viu o motorista, de arma na mão, a verificar o perímetro. Delaroche
acocorou-se atrás de um aglomerado rochoso e esperou que o homem se
aproximasse. Quando o motorista se encontrava a cerca de dez metros de distância,
Delaroche pôs-se de pé e apontou a Beretta na escuridão. Stoltenberg estava
novamente a esbofeteá-la, no rosto, na nuca, nos seios. Ela sentiu que o homem
começava a gostar daquilo. Pensou noutra coisa, qualquer coisa. Pensou na casa
flutuante no Prinsengracht e na pequena livraria e desejou que Jean-Paul
Delaroche nunca tivesse entrado na sua vida. A porta do motorista abriu e fechou-
se. Na escuridão, Astrid mal conseguia distinguir a silhueta de um homem atrás do
volante. Apercebeu-se de que não era o mesmo homem que lá estivera antes.
Stoltenberg pressionava novamente a arma contra o pescoço de Astrid. ─
Viste alguma coisa? ─ perguntou Stoltenberg em árabe. O homem atrás do volante
abanou a cabeça.
─ Yallah ─ ordenou Stoltenberg. Vamos embora. Delaroche virou-se e
apontou a Beretta ao rosto de Stoltenberg. O alemão ficou demasiado estupefato
para reagir. Delaroche disparou três vezes. ─ Ele podia ter-me matado, Jean-Paul.
Estava deitada na cama no Hotel Imperial, com a sua galabia vestida, a
fumar um cigarro atrás do outro na semiobscuridade. Delaroche estava deitado ao
lado dela, a desmontar as armas. Ela tinha o cabelo úmido da ducha. Esfregara-se
até ficar em carne viva, a tentar lavar o sangue de Stoltenberg. O vento entrava
pelas portas abertas. Arrepiou-se. A sanita deixara outra vez de funcionar.
Delaroche telefonou para a recepção e pediu que alguém viesse arranjá-la, mas o
senhor Fahmy, o guardião do conhecimento secreto, estava de folga nessa noite. ─
Bokra, inshallah ─ disse o empregado. Amanhã, se Deus quiser.
Delaroche acatou a afirmação dela. O profissional que havia nele não podia
contestá-la. Eric Stoltenberg tivera muito tempo e oportunidade para matá-la.
Optara por não o fazer porque precisava de mais informações.
─ Ele podia ter matado você ─ disse Delaroche ─, mas não o fez porque se
portou com perfeição. Ganhou tempo, não contou nada. Você nunca esteve sozinha.
Eu estava atrás de você o tempo todo.
─ Se ele quisesse me matar você não teria podido impedir.
─ Este trabalho não é isento de riscos. Sabe disso.
As palavras de Stoltenberg ecoavam-lhe na mente.
─ É muito desleixado esse seu francês, Astrid. Enviou você a uma situação
muito perigosa.
─ Não sei se consigo continuar, Jean-Paul.
─ Aceitou a missão. Aceitou o dinheiro. Não pode desistir agora.

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