A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Vejo-os durante algum tempo e depois desaparecem.
─ Porque mata daquela maneira? Por que três tiros no rosto?
─ Porque quero que saibam que eu existo.
Astrid fechou os olhos e sentiu-se a deslizar para o sono.
─ Você é a Besta, Jean-Paul?
─ Do que está falando?
─ A Besta ─ repetiu ela. ─ O Diabo. Talvez deixe sua marca nos rostos deles
por ser a Besta.
─ Os homens que eu mato são maléficos. Se eu não os matar, outra pessoa o
fará. É apenas um negócio, nada mais.
─ Com você é mais do que apenas um negócio, Jean-Paul. É... ─ hesitou e,
por um instante, Delaroche pensou que ela tivesse finalmente adormecido. ─ É
arte, Jean-Paul. Sua forma de matar é como arte.
─ Dorme, Astrid.
─ Espere que eu durma antes de você dormir, Jean-Paul.
─ Eu espero ─ prometeu. Ficou em silêncio mais um instante.
─ Quando se aposentar, o que será do Arbatov? ─ perguntou ainda.
─ Suponho que terá de se aposentar também ─ respondeu Delaroche. ─
Mas ele já tem uma certa idade.
─ É o Diabo, Jean-Paul? ─ perguntou Astrid, mas adormeceu antes que ele
pudesse responder.
Momentos antes de o Sol nascer, retirou da mala o pequeno artigo do Le
Monde sobre um diplomata reformado russo morto por rufiões de rua em Paris.
Delaroche estava a dormir, ou fingia dormir, nunca tinha a certeza.
Levou o recorte até a varanda pouco firme de Fahmy e leu-o mais uma vez à
luz bege do despontar do dia. Talvez não tivesse sido Jean-Paul, pensou. Talvez
tivesse sido mesmo apenas um assalto.
O Cairo agitava-se lá em baixo. Uma abbaleen surgiu no beco, uma menina,
vestida com farrapos, cheia de sono, açoitando um jumento com uma chibata. O
muezim fez-se ouvir e outros mil juntaram-se a ele.
Levou um fósforo ao recorte e segurou-o até a chama o engolir. Depois
largou-o e viu-o flutuar, até cair em cima de um monte de lixo e transformar-se em
pó cinzento. 267

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