A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Entrou no quarto, tomou uma ducha, mudou de roupa e voltou a sair. A
Mukhabarat tinha uma das operações de vigilância mais dispendiosas da terra.
Michael sabia que o telefone do quarto de certeza que estava sob escuta, ainda que
viajasse como um homem de negócios italiano, presente na cidade para uma série
de reuniões. Dirigiu-se à estação de metro da Praça Tahrir e encontrou uma cabine
telefônica. Falou baixinho para o receptor durante dois minutos, levantando a voz
uma vez para gritar por cima do troar de um comboio que entrava na estação.
Tinha duas horas para gastar. Aproveitaria o tempo. Entrou no metro seguinte, saiu
na primeira estação e voltou atrás. Caminhou. Dirigiu-se ao museu egípcio. Foi
seduzido por uma loja de turistas especializada em óleos perfumados. Os rapazes
da loja empanturraram-no com chá e. cigarros enquanto ele experimentava vários
óleos. Michael recompensou a sua hospitalidade comprando um pequeno frasco de
um óleo de sândalo abjeto, que atirou para dentro do caixote do lixo mais próximo
assim que saiu. Estava à vontade, sem ser vigiado. Fez sinal a um táxi e entrou.
O Cairo é uma cidade de elegância perdida. Outrora existiram cinemas, um
teatro de ópera e villas rodeadas de muros que derramavam música de câmara para
as noites quentes. Pouco resta, e o que sobreviveu tem a consistência de um jornal
deixado muito tempo ao sol. Muitas das villas foram abandonadas, a ópera
desapareceu e os teatros tresandam a urina. O restaurante Arabesque tem o toque
do velho Cairo, fazendo lembrar um ancião que deambula pela casa o dia inteiro de
terno e gravata.
Estava-se a meio da tarde, a altura calma entre o almoço e o jantar, e a sala
de jantar estava quase deserta. Michael teve de se esforçar para ouvir o barulho do
trânsito, tão bom era o isolamento do restaurante. Yousef Hafez estava sentado a
uma mesa de canto, longe de todas as outras pessoas. Quando Michael se
aproximou, ergueu o olhar e sorriu, fazendo brilhar duas filas de dentes perfeitos e
brancos. Tinha a aparência de uma estrela de cinema egípcia, do tipo corpulento na
casa dos cinquenta, com um cabelo farto e a ficar grisalho, que atrai mulheres mais
jovens e ultrapassa homens mais jovens. Michael sabia que isso não andava longe
da verdade.
Pediram vinho branco fresco. Hafez era muçulmano, mas achava que a
fidelidade rígida à lei islâmica era para "os malucos e os camponeses". Brindaram e
conversaram sobre os velhos tempos durante uma hora, enquanto os empregados
traziam travessa após travessa de aperitivos ao estilo libanês.
Por fim, Michael falou no assunto que ali o levara. Disse a Hafez que estava
no Cairo para tratar de um assunto pessoal. Esperava que Hafez o ajudasse por
amizade e cortesia profissional. Sob quaisquer circunstâncias poderia discutir o

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