— Mas alguns de nós temos passados mais interessantes que os outros. Além do mais,
o quanto você realmente sabe sobre a vida privada dele?
— O suficiente para saber que ele nunca faria algo tão imprudente como ter um caso
com uma funcionária do Vaticano.
— Talvez você esteja certo. Mas não consigo imaginar como um homem como Luigi
Donati lida com o celibato.
— Ele não dá nenhuma brecha para um relacionamento. E usa uma túnica preta e dorme
no quarto vizinho ao do papa.
Chiara sorriu e pegou uma bruschetta da bandeja.
— Aceitar o caso traria pelo menos um benefício — falou ela, pensativa. — Seria uma
chance de darmos uma olhada na coleção particular de antigüidades da Igreja. Só Deus sabe o
que eles têm trancado naqueles depósitos.
— Deus e os papas — acrescentou Gabriel. — É material demais para eu revisar
sozinho. Vou precisar da ajuda de alguém que conheça algo de antigüidades.
— Eu?
— Se o Escritório não tivesse cravado as garras em você, a essa altura seria
professora de alguma universidade italiana importante.
— Isso é verdade, mas eu só estudei a história do Império Romano.
— Qualquer um que tenha estudado os romanos sabe algo sobre os artefatos deles. E
seus conhecimentos da civilização grega e etrusca são muito superiores aos meus.
— Receio que isso não signifique muita coisa, querido.
Chiara ergueu uma sobrancelha antes de levar o copo de vinho aos lábios. Sua
aparência tinha mudado bastante desde que eles chegaram a Roma. Com o cabelo caindo sobre
os ombros e a pele morena reluzente, ela se parecia muito com aquela inebriante jovem
italiana que Gabriel conhecera havia dez anos, no antigo gueto de Veneza. Era quase como se
o peso de muitas operações longas e perigosas tivesse sido removido. Apenas uma leve
sombra de luto pairava sobre seu rosto, causado por um aborto que sofreu quando foi
seqüestrada pelo oligarca e negociante de armas russo Ivan Kharkov. Desde então, ela não
conseguira engravidar novamente. Chiara se resignara à perspectiva de que ela e Gabriel
talvez nunca tivessem filhos.
— Há outra possibilidade — sugeriu ela.
— Qual?
— Que Claudia Andreatti tenha subido ao topo da basílica num estado de perturbação
emocional e se jogado.
— Quando eu a vi ontem à noite, ela não parecia uma mulher perturbada. Na verdade...
— A voz de Gabriel se perdeu.
— O quê?
— Eu senti que ela queria me dizer algo.
Chiara ficou em silêncio por um momento.
— Quanto tempo vai levar para Donati nos trazer os documentos dela?
— Um ou dois dias.
— E o que vamos fazer até lá?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1