O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Patrício veio buscá-la duas horas mais tarde, como combinado. Estacionou
o jipe e entrou no prédio. Subiu a escada, lentamente, degrau a degrau, como
se as pernas fossem de chumbo, sem pressa nenhuma para reencontrar
Regina. Como não sabia como dizer-lhe que Nuno estava morto, Patrício
prestava-se à rábula de a ajudar a procurá-lo. Mas ele sabia, a sua fonte, o
gajo importante das FAPLA
, era o Monstro Imortal, nome de guerra de um
dos principais comandantes do exército do MPLA. Se o homem não estivesse
a par do que acontecera a Nuno, quem estaria? Nuno caíra nas mãos do
movimento, isso era certo, pois não estava em poder da tropa portuguesa. E,
se havia algo de que Patrício tinha a certeza era que nada acontecia no MPLA
sem o Monstro Imortal ter conhecimento. Provavelmente, até fora o próprio a
dar a ordem de execução. Isso ele não lhe dissera, mas quanto ao resto tinha
sido bem claro, brutalmente claro.


Patrício arriscara-se a telefonar ao comandante das FAPLA depois de ter
esgotado todos os seus recursos, inutilmente. Não gostava de telefonar aos
todo-poderosos dirigentes do MPLA com perguntas que lhe queimavam as
mãos, mas Regina ia a caminho de Luanda, o que é que ele havia de fazer?
Telefonou. Explicou-lhe que tinha a mulher de Nuno, desesperada, a ligar-lhe
insistentemente de Lisboa. Perguntou-lhe se o podia ajudar a deslindar o
mistério.


— Esse piloto mercenário era seu amigo? — indagou uma voz, de súbito,
gelada, no outro lado da linha.


— Meu, não! — mentiu Patrício. — Não conheço esse branco de lado
nenhum — apressou-se a dizer. E, porra, preto de um cabrão, já me deste a
resposta com a pergunta. Se o comandante sabia que Nuno era piloto e se se
referia a ele no pretérito, como se já tivesse passado à história, estava tudo
dito, não?


— Vocês, jornalistas — lamentou a voz ácida — não aprendem nunca.
Sempre a meterem o nariz onde não são chamados. — Se as palavras
matassem, pensou Patrício, horrorizado, ele teria tido morte instantânea
naquele preciso momento. Não matavam, de facto, mas convinha-lhe ir com
pezinhos de lã, porque o bom do camarada podia mandar um jipe buscá-lo a
qualquer hora.


—   Camarada    comandante, não me  interprete  mal —   disse,  esforçando-se
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