O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

não sabia. E, se o MPLA tivesse o Nuno em seu poder, esse figurão sabê-lo-
ia, certo?


— Certo. Mas, e se ele mentiu?
— Não. Na altura tu disseste-me que era uma boa fonte, que nunca te tinha
falhado. Tu tinhas razão, ele não mentiu, eu é que não quis ouvir-te.


— É verdade — admitiu Patrício, para não se embrulhar numa teoria de
recurso, de fraca lógica, que Regina não iria engolir. — Ele nunca me mentiu.


— Então — continuou ela —, se o MPLA não o raptou, onde é que o Nuno
pode estar?


—   Na  fazenda do  Silva   Pinho?...
Regina escancarou um grande e triunfal sorriso.
— Exacto.

Ela não conseguira convencer Antero a providenciar-lhe uma escolta até à
fazenda e não iria admitir um não de Patrício. Antero pusera-se com evasivas,
com argumentos de Estado.


— Não posso fazer isso — dissera. — É um momento muito delicado para
nós. Imagina o que seria o exército português ser surpreendido a caminho da
frente de combate. Seria simplesmente desastroso.


— Não é o exército, Antero, são meia dúzia de homens.
— Vai dar ao mesmo, e eu não posso pôr em perigo a vida dos meus
homens.


— Bolas, não pões! A fazenda fica do lado de cá do rio, antes de chegarmos
à linha da frente.


— Não deixa de ser muito perigoso. A região está infestada de soldados das
FAPLA. Se nos detectassem, e acredita que nos detectariam, comiam-nos
vivos. É como te digo, não arrisco a vida dos meus homens.


— Nem sequer para resgatar outro português?
— Tu não tens garantia nenhuma de que o Nuno esteja lá. Mesmo que eu
aceitasse, os meus superiores não aceitariam. E, mesmo que eles aceitassem,
os soldados recusar-se-iam a participar numa operação suicida.


— Recusar-se-iam?! Mas que raio de unidade é que tu diriges aqui, que os
soldados não obedecem ao comandante?

Free download pdf