O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

— São tempos complicados, tens de perceber.
— O que eu percebo, Antero, é que tu és um cobarde. O Nuno salvou-te a
vida uma vez, mas tu não mexes um dedo, não te arriscas nem um bocadinho
para o salvar. E deves-lhe isso.


Ele ainda tentara rebater a acusação, mas Regina impedira-o, dissera-lhe
que não queria ouvir nem mais uma palavra dele. Levantara-se, saíra.


De modo que a batata quente passara para as mãos de Patrício e ele nem
queria acreditar que se deixara enredar na lógica irrefutável de Regina. Bem,
refutável até era, mas isso implicaria admitir que lhe escondera a verdade e,
de qualquer forma, depois da conversa dela com Antero, Patrício desconfiava
de que, se lhe contasse que Nuno tinha sido executado, Regina não
acreditaria, não aceitaria. Pensaria, muito justamente, que ele estava a
inventar uma mentira nojenta de última hora, porque também não tinha
coragem para a acompanhar. Regina virar-se-ia contra ele, haveria uma cena
feia, uma revolta, palavras definitivas e, no fim, tinha a certeza, ela não
deixaria de se fazer à estrada e de enfrentar todos os perigos sozinha. Regina
faria o que fosse preciso para chegar à fazenda e, pelo menos com Patrício,
teria mais chances de ser bem-sucedida.


—   Vem comigo, Patrício,   por favor,  vem comigo.
— É uma loucura — protestou.
— Patrício, eu amo-o, não posso viver sem o Nuno, sem ele morro.
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