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Faltava-lhes apenas um quilómetro para chegarem à fazenda, o que fariam
sem dificuldade, pois circulavam na única estrada que havia na zona e, tanto
quanto lhes parecia, também não havia outro destino possível. Regina soltou
uma risadinha nervosa.
— O que foi? — perguntou Patrício.
— Aqueles dois lá atrás... — abanou a cabeça, desconcertada. — O que
raio estão eles ali a fazer?!
Patrício encolheu os ombros.
— Vá-se lá saber.
— Sacanas, pregaram-me cá um susto.
— E não era para menos — disse ele. — Estes gajos, tanto nos dão
palmadinhas nas costas como nos dão um tiro na cabeça.
— Mas tu geriste muito bem a situação — elogiou-o. — Percebes alguma
coisa de quimbundo?
— Alguma coisa — confirmou. — Não muito.
— O que é que eles estavam a discutir quando saíste do carro?
— Sei lá — respondeu. — Acho que estavam à nora, sem saberem o que
fazer. — Na realidade, a discussão era sobre se os prendiam ou os matavam,
mas Patrício achou que Regina não precisava de saber isso.
Deram com o portão de madeira e arame deitado abaixo, como se algum
veículo pesado o tivesse arrancado sem abrandar, partindo-o ao meio,
arrastando-o durante vários metros e atirando-o para a beira do caminho de
terra maltratado pelas primeiras chuvadas, que conduzia à casa grande da
fazenda. Esta ficava no alto de uma ladeira pouco inclinada, a cerca de
trezentos metros do portão, rodeada de árvores, as únicas que se viam em toda
a área circundante. Patrício não fez nenhuma alusão ao portão destruído,
embora achasse estranho, porque tudo o que ouvira sobre Silva Pinho lhe
sugeria não ser pessoa de tolerar desleixos. Regina também não comentou o
assunto, mas Patrício reparou que ela ficou tensa, inclinando-se para a frente,
ansiosa, tentando descobrir sinais de vida na propriedade.
Subiram a ladeira a baixa velocidade, sem avistarem vivalma, sem se