depararem com nenhum dos soldados do pequeno exército que esperavam
encontrar. Regina contara a Patrício que o capitão Antero lhe dissera que
Silva Pinho se rodeara de mercenários e se preparava para defender as suas
terras a tiro. Ora, se essa informação estivesse correcta, teria sido natural que
os tivessem interceptado no portão, o que não acontecera. Pelo contrário, não
se via nenhuma actividade militar e até parecia que a propriedade estava ao
abandono.
Ultrapassaram a cortina de árvores que escondia a casa. Esta surgiu-lhes ao
fundo de um inesperado relvado, à direita, mas a visão que os assaltou não
tinha nada de idílico. Horrorizado, Patrício levou instintivamente o pé ao
travão e o jipe deslizou na terra com as rodas bloqueadas até se imobilizar
com um soluço enervante, um sobressalto do motor a ir abaixo na
atrapalhação da travagem. Parou envolto numa pequena nuvem de poeira, que
foi assentando em silêncio, enquanto eles interiorizavam a enormidade do
cenário.
— Meu Deus... — murmurou Regina, assombrada.
Patrício teve de agarrar Regina por um braço para a impedir de saltar do
jipe. Ela pensou que estava tudo perdido, que ia encontrar Nuno morto e
entrou em pânico. Mas ele não a deixou sair do carro, obrigou-a a acalmar-se
enquanto ouvia o seu próprio cérebro a transmitir-lhe o mesmo conselho.
Calma, Patrício, nada de precipitações. Estão todos mortos, pensava por seu
lado Regina, aturdida, estão todos mortos e este pesadelo nunca mais acaba,
estou cada vez mais enfiada na merda . Não saias daqui, ouviu Patrício dizer-
lhe, terminante, quando deitou a mão ao puxador da porta. Uma porra é que
não saio, respondeu, ou pensou só, mas achou que respondeu em voz alta,
abrindo a porta sem lhe ligar. E Patrício, entre o irritado e o assustado,
esticou-se por cima dela, agarrou a porta ainda a abrir-se, puxou-a com força,
bateu com ela, e gritou-lhe eu disse-te para ficares aqui!
— Deixa-me sair! — exigiu Regina, furiosa, a debater-se, num descontrolo
de nervos.
— Já deixo, espera um momento, por favor!
Ele segurou-a pelos ombros, forçando-a a ficar sentada, impedindoa de se
mexer. Pôs o motor a funcionar, engrenou a primeira e aproximou-se da casa
muito devagar. E só a deixou sair quando se convenceu de que não havia
perigo.
Havia dezenas de cadáveres espalhados pela relva, todos homens, fardados,