Com as rodas livres, o carro voltou a ganhar tracção e saltou em frente, mas
na direcção errada. Ele rodou o volante muito depressa e o jipe deu uma
chicotada de traseira para o lado contrário, rodou desesperadamente o volante
outra vez, o carro deu uma segunda chicotada de traseira para o outro lado,
rodou o volante ainda mais uma vez e lá conseguiu equilibrá-lo.
Com o susto, Regina foi arrancada aos seus pensamentos mórbidos e
acordou num sobressalto para a realidade.
— Volta para trás, Patrício! — gritou, aterrorizada. — Eles vão-nos matar!
Tinham percorrido quase um quilómetro desde o portão da fazenda e
faltava-lhes outros dois para chegarem à estrada de alcatrão. Estavam a
chegar ao posto de controlo onde, à ida, haviam sido parados pelos soldados
de óculos de sol e camisola do Benfica.
— Filhos-da-puta — rosnou Patrício.
— O que é que estás a fazer?! — perguntou Regina, horrorizada. O jipe
seguia a uma velocidade imparável, como se não tivesse um obstáculo
intransponível pela frente, como se fosse possível passar. Mas não era, e
Regina pensou que se iam esmagar, que iam morrer. — Não vais conseguir
passar — começou a repetir, em pânico. — Não vais conseguir passar, não
vais conseguir passar, não vais conseguir passar!!!