mala dela, depositou-a no chão, olharam-se por momentos, sem palavras.
Regina tinha os olhos brilhantes e vermelhos de uma noite sem dormir,
cansados de chorar. Encolheu os ombros com um sorriso frágil nos lábios.
Patrício percebeu na sua expressão toda a frustração que lhe ia na alma.
Levou a mão à testa dela, a compor-lhe o cabelo, em jeito de carícia, de um
consolo amigo. Reparou que ela não fizera o rabo-de-cavalo do costume,
achou-a tão bonita e tão triste que se lhe partiu o coração, abraçou-a.
— Eu não vou desistir de o procurar — prometeu, uma promessa vã, como
sabia, uma mentira piedosa. Sentiu a cabeça de Regina a dizer que sim contra
o seu peito e percebeu que ela já não tinha esperança, já não acreditava que
fosse possível reencontrar Nuno com vida. Talvez fosse melhor assim, pensou
Patrício, desejando convencer-se de qualquer coisa que lhe atenuasse os
remorsos de não lhe contar a verdade.
— Se ao menos eu soubesse o que lhe aconteceu... — disse Regina, com a
voz abafada num murmúrio angustiado. E Patrício encheu-se de coragem para
lhe dizer e afastou-a dele, segurou-lhe o rosto com as duas mãos, olhou-a bem
de frente nos olhos desolados e...
— Um dia vais saber — disse, mais uma vez derrotado pela cobardia.
— Sim... — assentiu Regina, como quem diz que não, não vou saber coisa
nenhuma.
Patrício ficou a vê-la a apresentar-se ao sentinela, a entrar na Fortaleza, e
pensou que, muito provavelmente, era a última vez que a via. Em seguida
meteu-se no jipe e foi para a rádio, sentar-se à secretária a escrever a carta que
haveria de enviar a Regina.