Isto não vai ser fácil, pensou Patrício. Foi então que a paciência de Regina
chegou ao fim e ela avançou para a porta a dizer não tenho tempo para esta
merda. O chefe deu um passo ao lado e travou-a com uma mão em forma de
pistola, um dedo indicador quase a tocar-lhe na ponta do nariz.
— Essa branca é muito abusível! — gritou, terrivelmente zangado. Regina
engoliu em seco e recuou. Patrício interpôs-se para a proteger da fúria do
chefe e ergueu as mãos em sinal de paz. O soldado indolente deu-lhe um
encontrão no peito com uma manápula aberta e Patrício voou uns dois metros
contra o balcão e estatelou-se. O segundo soldado pescou Regina pelos
cabelos e puxou-a para trás com um esticão brutal, levando-a a chocar com o
seu corpo. No instante seguinte havia berros, pontapés e armas na mão.
— Foi o Monstro Imortal que me mandou cá! — gritou Patrício do chão,
provocando assim um silêncio assombrado.
— Quem? — perguntou o gordo, inclinado sobre ele, como se não tivesse
ouvido bem o nome mágico.
— O comandante Monstro Imortal — disse Patrício, espreitando por detrás
do braço direito, a proteger a cara — é que me disse para vir cá buscar o
prisioneiro.
— Tens dócumento? — quis saber o chefe.
— Não, mas como é que eu havia de saber que ele estava cá se não me
dissessem?
— Não interessa, tens dócumento? — Patrício abanou a cabeça, derrotado.
— Eu tenho documento — interveio Regina, presa pelos cabelos e
debatendo-se apesar da pistola apontada à cabeça.
O chefe rodou um pouco o seu corpanzil para trás e espreitou por cima do
ombro, mantendo as mãos apoiadas nos joelhos flectidos. Depois endireitou-
se e foi ter com Regina.
— Onde está?
— No meu bolso — respondeu ela, atrapalhada nas mãos do brutamontes
que a agarrava. A um gesto do chefe, o soldado soltou-a.
— Mostra — ordenou-lhe.
Regina tirou do bolso dos jeans um rolo de notas e mostrou-o ao chefe.