Público • Quinta-feira, 19 de Setembro de 2019 • 31
MUNDO
HAMAD I MOHAMMED/REUTERS
O porta-voz do Ministério da Defesa saudita mostrou imagens das zonas atingidas no ataque
A Arábia Saudita mostrou ontem des-
troços de drones e mísseis usados no
ataque de sábado contra duas insta-
lações petrolíferas e garantiu que a
agressão foi “inquestionavelmente
patrocinada pelo Irão”, e que não
teve origem no Iémen. O príncipe
herdeiro saudita, Mohammad bin
Salman, vai encontrar-se com o secre-
tário de Estado dos EUA, Mike Pom-
peo, para decidirem uma estratégia
comum face à “agressão iraniana”.
“O ataque foi sistemático e inten-
cionalmente planeado para destruir
infra-estruturas civis”, disse o porta-
voz do Ministério da Defesa saudita,
o coronel Turki al-Malki, sublinhando
que faz parte de uma estratégia para
prejudicar o circuito petrolífero mun-
dial. E garantiu: “O ataque não teve
origem no Iémen.”
A Arábia Saudita prometeu apre-
sentar provas irrefutáveis de que o
Ataque na Arábia Saudita
foi “inquestionavelmente
patrocinado pelo Irão”
Irão estar por trás dos ataques na con-
ferência de imprensa de hoje. O por-
ta-voz apontou, por meio de imagens,
as zonas atingidas nas duas instala-
ções petrolíferas, de Abqaiq e Khu-
rais, e mostrou os destroços de veícu-
los aéreos não-tripulados e de mísseis,
garantindo serem oriundos da Repú-
blica Islâmica.
“Os iranianos estão a trabalhar para
apoiar grupos terroristas por todo o
mundo e não permitiremos que o
façam. É da responsabilidade de toda
a comunidade internacional travar e
responsabilizar o Irão pelas suas
acções”, disse Al-Malki. Teerão nega
todas as acusações de envolvimen-
to no ataque de sábado e acusa
Washington e Riad de “mentirem”.
Questionado pelos jornalistas sobre
as próximas acções de Riad, o porta-
-voz limitou-se a dizer que o reino está
a “trabalhar com os EUA para enfren-
tar a ameaça e garantir a segurança
nacional”. Por agora, frisou, as inves-
tigações vão continuar para se apurar
o local exacto dos lançamentos e os
seus responsáveis.
O príncipe herdeiro saudita vai
encontrar-se com o líder da diploma-
cia norte-americana em Jidá para se
deÆnir uma linha comum, porventu-
ra militar, contra o que dizem ser a
“agressão iraniana”. Entretanto, o
Presidente dos EUA, Donald Trump,
ordenou ao Departamento do Tesou-
ro que “aumente substancialmente as
sanções” contra Teerão, sem dar mais
detalhes. Além disso, Washington
ainda não emitiu os vistos para que o
Presidente iraniano, Hassan Rouhani,
e o ministro dos Negócios Estrangei-
ros, Mohammad Javad Zarif, possam
participar na Assembleia Geral das
Nações Unidas, em Nova Iorque, na
próxima semana.
Os ataques de sábado puseram em
xeque as defesas aéreas sauditas.
Confrontado com essa situação, Al-
Malki garantiu que o reino tem “mui-
to orgulho nas suas capacidades de
defesa”, sublinhando que é o único
país do mundo que já se viu obrigado
a abater “232 mísseis e 258 veículos
aéreos não-tripulados”.
A Arábia Saudita começou a ser
alvo de ataques dos rebeldes houthis,
do Iémen, depois de ter formado uma
coligação internacional para intervir
na guerra civil iemenita ao lado do
Presidente Abdu Mansour Hadi,
deposto pelos houthis em 2015. O
conÇito já causou a morte a mais de
100 mil pessoas, a maioria por fome,
e Riad é acusada pelas Nações Unidas
de bombardear zonas civis.
Ministério da Defesa
saudita mostra destroços
de drones e mísseis do
ataque de sábado contra
instalações petrolíferas
Médio Oriente
Ricardo Cabral Fernandes
[email protected]
EUA
Alexandre Martins
Robert C. O’Brien apoia o
reforço da máquina militar
norte-americana, em
particular na Ásia e no
Médio Oriente
[email protected]
Uma semana depois de ter despedido
o controverso e conÇituoso John Bol-
ton do cargo de conselheiro de Segu-
rança Nacional dos EUA, o Presiden-
te norte-americano nomeou para o
lugar Robert C. O’Brien, uma Ægura
pouco conhecida do grande público,
mas muito requisitada por candidatos
à Casa Branca como especialista em
política externa, em particular sobre
o Médio Oriente e a Ásia.
Advogado de carreira, destacou-se
na política externa por criticar a redu-
ção do orçamento militar dos EUA
nas últimas décadas, culpando esse
desinvestimento pelo aumento da
inÇuência da China como potência
naval. Com a eleição de Trump, come-
çou a ser visto como um potencial
responsável de topo na Casa Branca,
sendo um dos maiores entusiastas da
promessa de maior investimento nas
Forças Armadas feita por Trump.
Em Maio de 2018, foi nomeado
representante especial do Presidente
dos EUA para os assuntos relaciona-
dos com os casos de sequestro de
norte-americanos no estrangeiro.
Antes disso, foi conselheiro de polí-
tica externa de dois candidatos presi-
denciais, ambos do Partido Republi-
Trump substitui John
Bolton por um discreto
negociador de reféns
atento à China
cano: Mitt Romney, em 2012, e Scott
Walker, em 2016. Em meados dos
anos 2000, fez parte da equipa diplo-
mática dos EUA nas Nações Unidas,
onde trabalhou sob as ordens do
então embaixador John Bolton, e aju-
dou a treinar juízes e advogados no
Afeganistão, ainda durante a Admi-
nistração de George W. Bush.
Na última década, O’Brien desta-
cou-se com uma série de artigos sobre
a posição dos EUA no resto do mun-
do, em particular na Ásia e no Médio
Oriente, muito críticos em relação à
política do Presidente Barack Obama
de “liderar a partir da retaguarda”.
“A política externa da Administra-
ção Obama encorajou os nossos
adversários e desanimou os nossos
aliados”, escreveu no livro While Ame-
rica Slept: Restoring American Leader-
ship to a World in Crisis (Enquanto a
América dormia: restaurando a lide-
rança americana num mundo em
crise), publicado em 2016.
Mas a relação entre Trump e o seu
novo conselheiro de Segurança Nacio-
nal pode vir a revelar-se conturbada.
Ao contrário da ligação fria e distante
do Presidente aos velhos aliados dos
EUA e à ideia de exportação da demo-
cracia, O’Brien é, nesse aspecto, um
republicano mais tradicional.
“A liberdade, a democracia, os
direitos humanos e o primado da lei
são valores universais do espírito
humano”, escreveu no livro publica-
do há três anos, onde aponta exem-
plos: “As mulheres afegãs não esta-
vam satisfeitas debaixo do chicote dos
taliban; Saddam não era amado pelo
povo; Milosevic não era o salvador da
Sérvia. E sempre que as pessoas
comuns têm a hipótese de escolher,
a escolha é sempre a mesma: liberda-
de em vez de tirania; democracia em
vez de ditadura; primado da lei em
vez da polícia secreta.”
O’Brien substitui John Bol-
ton numa altura em que a relação
entre os EUA e o Irão se agravou ainda
mais, após o ataque com drones con-
tra dois campos petrolíferos sauditas,
no sábado. A Arábia Saudita aÆrma
que o ataque foi lançado pelo Irão e a
Casa Branca ordenou, ontem, o refor-
ço das sanções contra o país. E herda
outras situações complicadas, que o
seu antecessor tentou inÇuenciar
com uma postura mais agressiva,
como a situação na Venezuela e na
Coreia do Norte.
O’Brien aposta no reforço da
relação com os aliados dos EUA