Psique - Edição 156 (2019-02)

(Antfer) #1
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É dolorido


para ambos os


lados: o que


cobra ou espera


uma resposta


diferente da


possível. E o que


nunca conseguirá


responder


satisfatoriamente


às expectativas


ou anseios


do outro


IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK


Alguns viverão isso com uma
tristeza enorme aparente e outros
demonstrarão sua imensa raiva e
contrariedade diante da impossibi-
lidade do que eles querem viver, ser
ou ter.
Outros acabam se suicidando, di-
reta ou indiretamente, demonstran-
do em parte dos casos forte perda
de sentido de vida, apatia e tristeza
e, em outros, forte raiva, irritação e
insatisfação constante quando impe-
lidos a viver a realidade possível ao
invés da situação desejada por eles.
Negam tudo que existe ao seu
redor enquanto campo de possibi-
lidades e permanecem irredutíveis e
teimosos, presos à única saída aceita
por eles. E quando falamos em úni-
ca saída, precisamos dizer que não
se trata da melhor saída ou da saída
mais adequada para aquele sujeito.
Falamos da saída elegida por ele
como a única solução possível para
resolver satisfatoriamente aquela
questão. O sujeito se fecha e se apri-
siona a essa ideia fixa, não se permi-
tindo experienciar nenhuma outra
alternativa.

Prisão


A


ceitar o passado é fundamen-
tal para se viver efetivamente o
presente. Enquanto não aceitamos
algo em nosso passado, não o deixa-
mos ir. Permanecemos presos a ele e
o tornamos parte viva e atuante do
nosso presente. Aceitar o passado

significa se libertar e apaziguar uma
questão, significa encerrar um ciclo
ou um assunto.
Aceitar o presente é fundamen-
tal para se criar um futuro sadio.
Aceitar o presente é caminhar den-
tro das possibilidades existentes.
Enquanto não aceito permaneço pa-
ralisado, bloqueado e insatisfeito.
Cabe pontuar aqui que aceitar
não é desistir de tudo o que não nos
vem facilmente às mãos. Mudar de
casamento, emprego, escola ou gru-
po social não é, muitas das vezes, a
solução adequada para determinado
conflito. Senão, passaríamos a vida
precisando mudar de escola, empre-
go, amigos e parceiro para dar conta
de uma necessidade de satisfação
pessoal não atendida. O que sina-
liza, na verdade, a necessidade de
uma mudança pessoal para se ade-
quar àquele tipo de situação difícil.
Mas quando seria o caso em que
necessitaríamos modificar a situa-
ção externa ou o caso de mudar algo
interno em nossa estrutura?
Acho que como passo inicial
numa situação de sofrimento ou con-
flito, a parte sofredora deve buscar
identificar o que nela precisa ser mu-
dado para que possa lidar com aquela
dificuldade de uma forma melhor.
Mudar simplesmente o ambiente
externo a fim de evitar aquele tipo de
dor pode não ser uma saída eficaz, já
que o novo ambiente externo pode
apresentar, com o tempo, novos fato-
res que tragam o mesmo tipo de in-
cômodo ou dor. E, se assim for, não
poderemos ficar simplesmente mu-
dando de ambiente a todo momento
incessantemente, como escola, traba-
lho, grupo social etc.
Precisamos aproveitar o mo-
mento de dor para aprendermos to-
das as lições que a vida pretende nos
trazer com aquele sofrimento. Dessa
forma, vamos nos munindo cada vez
mais de novas ferramentas para lidar
com o mundo a nossa volta e evitan-

PROF. DR. FRANZ VESELY/WIKIMEDIA COMMONS

Uma infância sofrida, uma criança abandonada, uma situação humilhante do passado precisam de
aceitação para que deixem de causar sofrimentos

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