Depois de terminar a escola, Barrie quis se tornar escritor, mas sua família o pressionou
a ir para a faculdade, porque era isso que David teria feito. Assim, Barrie achou uma solução
que agradasse a todos: continuaria a estudar, mas ingressaria no curso de literatura.
Barrie terminou por escrever um dos mais famosos livros da literatura infantil, Peter Pan,
ou o menino que não queria crescer. Originalmente escrito como uma peça de teatro que mais
tarde se tornou um filme celebrado, nele Peter Pan enfrenta o conflito entre a inocência da in-
fância e a responsabilidade de ser adulto. Peter decide continuar criança e encoraja todas as
outras a fazer o mesmo. Como um lendário conto de fadas, parece uma deliciosa história in-
fantil, mas quando se conhece a história do autor, é algo bastante trágico.
A mãe de Barrie não conseguiu seguir em frente depois da morte do filho. Estava con-
vencida de que a infância tinha sido a melhor época da sua vida e que presente e futuro eram
repletos de dor e agonia. Como um caso extremo de alguém que ficou preso ao passado, ela
permitiu que isso interferisse até mesmo no bem-estar de seus filhos, afetando não apenas a
infância de Barrie, mas toda a sua vida adulta.
As concepções equivocadas sobre a tristeza também podem contribuir com nosso desejo
de viver no passado. Muitas pessoas acreditam que o tempo que passa chorando por alguém
é diretamente proporcional a quanto amor você tinha por ele. Caso se importasse um pouco
com alguém que morresse, você poderia lamentar por meses. Mas se de fato amasse essa
pessoa, a dor duraria anos ou talvez o resto da vida. Na verdade, pode-se sofrer durante anos
ou para sempre, mas a quantidade de tristeza que você sente não tem qualquer correlação
com o amor que sentia por aquela pessoa.
É provável que você tenha muitas memórias valiosas de seu ente querido. Mas é preciso
seguir em frente e trabalhar ativamente para criar novas memórias, tomar as melhores deci-
sões e nem sempre fazer o que os outros esperam que você faça.
E caso se encontre ruminando sobre algum aspecto de seu passado, você pode procurar
fazer as pazes com ele. Eis alguns modos de fazer isso:
- Dê a si mesmo permissão para seguir em frente. Às vezes, você precisa apenas
disso. Proseguir não quer dizer que você tenha que deixar as memórias de seu ente que-
rido para trás, mas sim que pode tomar as atitudes necessárias para desfrutar o presente
e aproveitar o melhor que a vida tem a oferecer. - Reconheça o preço emocional que vai pagar por viver no passado em vez de se-
guir adiante. De vez em quando, ficar preso ao passado é uma estratégia que funciona
no curto, mas não no longo prazo. Se fica pensando no passado, você não se concentra
no que está acontecendo no presente. Mas, no longo prazo, há consequências. Reco-
nheça as coisas que vai perder se sua atenção estiver voltada para o passado. - Pratique o perdão. O perdão pode ajudá-lo a se livrar de mágoas ocasionadas por
algo que aconteceu no passado porque não consegue se perdoar ou perdoar alguém.
Praticar o perdão não significa esquecer. Se, por exemplo, alguém o magoou, você pode
perdoar essa pessoa e, ao mesmo tempo, decidir que não quer manter mais contato com
ela. Concentre-se em se libertar para não ser consumido pela mágoa e pelo ressenti-
mento. - Mude o comportamento que o mantém preso ao passado. Se você se flagrar evi-
tando certas atividades porque tem medo de que possam despertar más lembranças ou
porque sente que não merece realizá-las, pense em fazê-las de qualquer maneira. Não
se pode mudar o passado, mas você pode escolher aceitá-lo. Se cometeu erros, não po-
de voltar atrás para consertá-los ou apagá-los. Pode até ser que você consiga tentar e
dar alguns passos para reparar parte do dano que causou, mas isso não vai tornar tudo
diferente.