IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

paraense.


Durante alguns minutos, revi na memória todos os acontecimentos que acabei de descrever, sem
vislumbrar a mínima parcela de coerência entre comportamentos do passado e o do fato difundido.
Como explicaria o senador Passarinho este súbito entendimento?


Valer-se-ia da casuística, na justificação moral de um caso de consciência?

Nesta hipótese, só teria êxito se admitisse, como ilustre escritor francês,' a lei política acima da
lei moral. Ou se aconchegaria ao conceito de casuísmo, com insistência lembrado, nos últimos
tempos, de aceitação passiva das idéias?


A matéria, todavia, não era do meu interesse e extinguiu-se, para mim, nessas especulações.

Dias depois da publicação, num gesto de cativante deferência, procurou-me o senador
Passarinho, em meu gabinete. Atendi-o com a cordialidade que sempre lhe dispensei.


Foi direto às razões da visita. Perguntou-me se tinha lido a notícia de seu encontro com Alacid
Nunes. Respondi afirmativamente.


Indagou, então, se eu tivera conhecimento do seu rompimento com Alacid Nunes, nos primeiros
tempos da Revolução, bem como dos motivos que o levaram a isto.


Disse-lhe, de modo lacônico, que os conhecia.

Recordou-me a seguir os desagradáveis fatos que citei, linhas atrás, relatando algumas minúcias
do choque havido entre ele e Alacid Nunes. Revelou que naquela época - eleição de 1965 - estava
preocupado com a falta de recursos para atender às despesas normais de uma campanha eleitoral,
quando encontrou Alacid Nunes que, muito satisfeito, declarou-lhe já ter conseguido o "dinheiro do
boi".3 Indagou como o obtivera e Alacid Nunes, tirando do bolso um cheque, mostrou-o. Fora o
documento remetido pelo Serviço Nacional de Informações e estava assinado pelo seu chefe, general
Golbery do Couto e Silva. Indignado com a violação dos princípios revolucionários, desentendeu-se
com Alacid, cujo procedimento condenou. Procurou, em seguida, o seu amigo general Mamede4 - a
quem expôs a situação. O general Mamede, temendo as repercussões desfavoráveis à Revolução,
dissuadiu-o de um rompimento público. Apesar disso julgara-se incompatibilizado, moralmente, com
Alacid Nunes, com o qual cortara relações.


Era, de modo geral, o que eu sabia, confirmado, agora, pelo principal personagem do evento.

Explicando o reatamento com Alacid Nunes, considerou-o absolutamente político, sem qualquer
outra conotação.


Recebera do Presidente da República, por intermédio de seu secretário particular, um convite
para comparecer ao palácio do Planalto. Lá chegando, comunicou-lhe o senhor Heitor Aquino

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