O general Geisel, um pouco pálido, ouviu calado. Levantei-me e disse-lhe:
- 0 senhor tem mais alguma ordem? Então, com licença!
No automóvel, de regresso, o meu ajudante-de-ordens perguntou-me o que tinha ocorrido, visto
que eu parecia muito aborrecido. Disse-lhe que mais tarde conversaríamos.
Dirigi-me ao quartel-general e reuni imediatamente elementos do que chamamos Estado-Maior
Pessoal - chefes-de-gabinete e do CIE, os dois assistentes e o ajudante-de-ordens.
Em conversa sigilosa narrei-lhes o acontecimento e avisei-os de que se prevenissem quanto à
minha provável exoneração porque, conhecendo melhor, agora, o presidente, não colocava dúvidas
sobre o seu procedimento futuro. Iria aguardar uma oportunidade, ou prepará-la, para exonerar-me.
O general Hugo Abreu, tratando especificamente deste assunto, diz às páginas 120 e 121 do seu
livro já citado:
Em agosto, conseguiu o grupo da intriga envolver o presidente em manobra que seria infalível
para derrubar o ministro. Convenceram Geisel de que a ordem do dia de Frota para 25 de agosto,
Dia do Soldado, seria de caráter político e conteria acusações ao próprio presidente. Num
despacho da primeira quinzena de agosto, ele pediu a Frota que lhe mostrasse previamente a
ordem do dia. A manobra era realmente digna de nossos maquiáveis de botequim: talvez não tão
inteligentes, mas dotados da mais absoluta falta de escrúpulos. O impasse estava criado.
Falei com o presidente sobre a inormidade do que estava fazendo, mas ele não quis ceder.
Dizia que, como presidente, tinha direito de tomar conhecimento prévio de qualquer discurso a
ser feito em sua presença e não concordou com meus argumentos de que não se tratava de
discurso, mas de uma ordem do dia. Tentei uma solução junto a Frota, inclusive mostrando-lhe
que se tratava de manobra para afastá-lo da função. Ele permaneceu irredutível.
A solução só foi conseguida graças a um entendimento meu com o general Bento Bandeira de
Mello, chefe-de-gabinete do ministro.
Esta narrativa ajusta-se bem ao que descrevi, linhas acima.
Realmente, o general Hugo Abreu procurou-me, ainda na mesma semana do incidente que tive
com o general Geisel, para convencer-me de levar ao presidente a ordem do dia. Narrei-lhe em
minúcias o fato - anotei-o logo que, no dia 9 de agosto, voltei a minha residência, à semelhança do
que fazia com todos os fatos importantes - e perguntei-lhe:
- Hugo, se o presidente lhe pedisse, nas condições que o fez, a ordem do dia, elaborada por você
e de sua responsabilidade, você a daria?
O general Hugo permaneceu calado e eu disse-lhe: