IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Corumbá, para confiná-lo...


Confirmava-me o general Geisel, pessoalmente, as palavras do Ministro da Justiça.


  • Mas não pode vir, presidente! Este homem insultou os oficiais do Exército, instigou os
    sargentos contra nós, oficiais... Declarou, no auge da crise, que os sargentos deviam matar os oficiais
    revolucionários... Eu não me posso responsabilizar por sua integridade física, visto que não é
    possível impedir que um oficial, ou mesmo um grupo, venha a agredi-lo em revide.


O presidente ouviu-me e, um pouco inseguro em face de minha reação, declarou:


  • Mas... já dei ordem para confiná-lo...

  • Então coloque-o numa ilha... Trindade tem uma guarnição da Marinha, ou em Fernando de
    Noronha.

  • Deste modo vão dizer que eu o estou perseguindo... respondeu o general Geisel.

  • E... que mal há que o digam, presidente?, perguntei-lhe, ao retirar-me. Nenhuma alteração fiz
    nas ordens que dera anteriormente quanto à detenção desse político cassado.


À tarde, ainda, do dia 20, foi revelado em Brasília que o governo dos Estados Unidos da
América do Norte dera asilo a Leonel Brizola. Estava encerrado o caso.


Minha participação nesse acontecimento está restrita ao que foi descrito.

A primeira informação que recebi sobre a expulsão de Brizola veio-me do ministro Azeredo da
Silveira e os motivos deste ato esclarecidos por aquele ministro, de modo vago e sucinto. O CIE
procurou aprofundá-los e ligou-os à conivência com Flávio Tavares, evidenciada, segundo fontes
mui seguras de informações, no depoimento do jornalista, também expulso pouco antes do Uruguai.


Entretanto, os jornalistas, que trataram da divulgação do evento, não se cansaram de, direta ou
indiretamente, citar-me como o solicitante obstinado da medida.


Se o Ministro do Exército fizesse uma solicitação dessa espécie, a teria feito pelos caminhos
normais, às claras, como sempre agiu, assentando-a em justificativas graves. O que o Ministro do
Exército não concordou foi com a vinda do incitador de assassínio de seus colegas e subordinados
para o Brasil. Fazê-lo, depois de tantas ameaças, insultos e escárnios com que nos feriu, quando
dispunha da proteção de seu cunhado presidente, seria fraqueza imperdoável ou desfibramento moral
incurável.


A saída de Leonel Brizola da República Oriental do Uruguai deve ser examinada mais
cautelosamente, com o objetivo de encontrar a sua verdadeira causa, empanada por uma versão
fantasiosa muito conveniente ao político.

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