A análise, todavia, só poderá ser realizada com os esparsos dados que obtive dos órgãos de
informações oficiais e com aqueles que vazaram emocionalmente pela imprensa através de
comentários e entrevistas.
A explicação correta foi a do CIE: Brizola envolvera-se em questões internas do Uruguai,
ligando-se a elementos subversivos orientais, conforme concluíram as autoridades daquele país,
firmadas nos depoimentos de Flávio Tavares.
Era esta, ainda, a versão lacônica que me fora dada pelo ministro Azeredo da Silveira.
A insistência do político em dizer que desconhecia as causas de sua expulsão poderia até ser
considerada ingênua se algo de inocente pudesse ser notado no comportamento de Leonel Brizola,
mesmo acidentalmente.
É evidente que Brizola não confessaria publicamente sua ingerência em assuntos uruguaios,
preferindo assegurar que ignorava os motivos dessa "violência". Fazia, assim, brotar a idéia de
perseguição, sempre execrável, ao tempo em que levantava a suspeita de pressões sobre o governo
uruguaio. Realmente, se as autoridades orientais não lhe diziam as razões de seu ato, essas deveriam
ser razões secretas, talvez "de Estado'; provavelmente de origem exterior.
Contudo o governo do Brasil não teve - que eu o saiba - a mínima interferência nessa expulsão e
constitui profunda estupidez aceitar a insinuação que o Ministro do Exército do Brasil fizesse à
revelia do seu governo solicitação desse teor. Nem o ministro pediria, nem o governo uruguaio
atenderia algo que não tivesse o apoio do governo brasileiro.
A minha audiência com o presidente Geisel, em que foi tratada a volta de Brizola, iniciou-se
exatamente às onze horas do dia 20 de setembro - último dia do prazo concedido a esse político para
permanecer no Uruguai. O despacho foi breve, não excedendo a trinta minutos.
Nela, como já mencionei, declarei ao presidente não me responsabilizar pela integridade física
de Brizola, em face de possível reação dos oficiais. Isto ocorreu, quero acentuar bem, entre onze e
onze e meia do dia 20, no entanto, poucas horas depois, a informação de que eu me opunha à sua
vinda, apesar de o presidente Geisel inclinar-se a permiti-la, já chegava a Brizola, em Montevidéu.
Transcrevo, aqui, o trecho da reportagem do jornalista Tarso de Castro, difundida na revista
Status de agosto de 1978, página 102.
A família toda está presente: as irmãs de Neusa, a irmã e o irmão de Leonel, os filhos João
Otávio, José Vicente e Neusa Maria. Os repórteres, na sala, perguntam a Brizola o que ele vai
fazer, que rumo vai tomar.
- Meu desejo, mesmo, é voltar ao Brasil.
O assunto tinha sido discutido já exaustivamente nas horas anteriores, entre familiares e