IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1
amigos, a maioria concordava na tese de impedir que ele fizesse isso. E a oposição ao retorno se
fortalecera diante de uma certa informação vinda de um amigo residente em Brasília: o
presidente Geisel, quando soubera da expulsão, se inclinara por um gesto largo - admitiria a
volta do exilado sob certas condições. Mas a hipótese teria sido rechaçada pelo tal ministro,
com veemência e com uma insinuação:


  • Não sei se poderei conter meus homens.


A frase dita no gabinete presidencial ao general Geisel fora transmitida - podese dizer
imediatamente - para Montevidéu.


Eu não divulgava, como era de meu hábito, a matéria tratada com o presidente, porquanto só o
fazia quando havia autorização ou o assunto era de rotina. Questão de ética e lealdade.


Quem a teria transmitido?

O presidente deve ter dado conhecimento da audiência a seus assessores e estes, por motivos
políticos, difundiram-na. O que não é possível negar é que a primeira divulgação partiu do palácio.


A comunicação a Brizola era nitidamente vantajosa à política dúbia do governo - mostrava o
espírito liberal do general Geisel, jogava sobre o Ministro do Exército a inteira responsabilidade de
uma recusa em receber o político cassado e, acima de tudo, angariava simpatias do grupo janguista.


O grupo palaciano - na denominação do general Hugo Abreu - que via no ministro um adversário
em potencial dos seus propósitos de permanência no poder, certamente, não deixou escapar essa
oportunidade de criar-lhe dificuldades e inimigos.


Engendrou-se, também, um motivo para justificar o meu suposto interesse em afastar Leonel
Brizola do Uruguai: o ministro preparava um golpe para depor Geisel e duas guarnições do Rio
Grande do Sul discordantes ameaçaram, então, convocar o político cassado para uma resistência.


A mesma revista Status, já citada, diz à página 120:

... o Ministro do Exército, Sylvio Frota, tramava, nessa ocasião, um golpe contra o presidente
Ernesto Geisel. E que duas guarnições do Rio Grande, próximas à fronteira, teriam dito não,
ameaçando convocar o sr. Leonel Brizola para organizar a resistência, num novo movimento pela
legalidade, nos mesmos moldes de 1961, quando da renúncia de Jânio...

Com ligeiras modificações esta asneira foi publicada em jornais, desinformando o público,
sempre confiante na boa-fé e na responsabilidade dos jornalistas.


Sua difusão pode ser encarada sob dois ângulos. No primeiro, ajudava a esconder a verdadeira
causa da expulsão; no segundo dava a entender que, já naquela época, o ministro preparava um golpe
contra o presidente. Se a primeira hipótese interessava a Brizola, indubitavelmente a última agradava

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