IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Pecegueiro do Amaral no dia 7 daquele mês, relutei na resposta afirmativa, pois desejava verificar
se havia coincidência de datas. Palestramos um pouco e explicou o Hugo que tomara aquela decisão
de convidarme porque queria mostrar publicamente não estar com o grupo do palácio useiro e
vezeiro em intrigar-me com o presidente, continuando meu amigo. Acrescentou que a sua ida ao
enlace matrimonial da filha de Humberto Barreto, a realizar-se no dia 10, obrigatória em vista de o
presidente comparecer, não deveria ser vista como uma aproximação aos palacianos nem admitida
como hostilidade ao ministro Frota. Tomara, portanto, a decisão de ter-me em sua casa, entre os seus
convidados. Fazia além disso questão de divulgar pela imprensa notícia sobre o jantar.


Sensibilizou-me bastante a manifestação de estima do general Hugo e, após averiguar que não
havia justaposição de datas, aceitei o convite. Contudo, vi essa ocorrência como mais uma
confirmação da existência de uma campanha contra mim, visando a demitir-me.


Há uma referência a esse evento na página 91 do livro 0 outro lado do poder.

Todos os fatos que podiam ser explorados pelo grupelho do Planalto o eram sem perda de
tempo. O meu não comparecimento ao casamento da filha de Humberto Barreto, no dia 10 de outubro,
foi um deles. O presidente seria uma das testemunhas, circunstância que assegurava de antemão uma
igreja cheia. Apesar de convidado, não compareci visto que não me sentiria bem entre alguns
convivas, exímios bajuladores, freqüentadores assíduos de reuniões às quais comparecia o general
Geisel. De outro ponto de vista, não se justificaria, moralmente, comparecesse eu àquela cerimônia
nupcial, porquanto tinha participado do Conselho que negara a Medalha do Mérito Militar ao pai da
noiva, em agosto, por não considerá-lo, àquela época, digno de ostentá-la.


Minha ausência foi notada e tomada como uma desconsideração ao presidente - idéia que jamais
tive - havendo, até, quem mostrasse grotesca indignação com esse pretenso desapreço.


Isto, às vésperas da Farsa, deu margem a comentários ferinos que, maldosamente ou não,
predispunham os ouvintes a não estranharem os acontecimentos futuros.


AS CONFABULAÇÕES DO GENERAL FIGUEIREDO


Li nos jornais, no dia 13 de agosto, a visita inusitada do Chefe do SNI, general-dedivisão João
Baptista de Oliveira Figueiredo, ao Quartel-General do III Exército, prédio em que também está o
Quartel-General do Comando da 3á Região Militar. Segundo o noticiário da imprensa - jornal do
Brasil de 13 de agosto de 1977 - o Chefe do SNI, tendo desembarcado em Porto Alegre, às oito e
meia da manhã, após ir ao hotel em que se hospedaria, dirigiu-se ao Quartel-General do III Exército,
onde conversou com o general Antonio Carlos de Andrade Serpa, Comandante da 3á Região Militar,
não querendo -já que podia- falar ao general Bethlem, que recebia, no seu gabinete de Comando do
Exército, a visita de alguns cônsules.


Procurou em seguida - às onze horas - o governador do Rio Grande do Sul, com quem palestrou,
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