IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

QUE VAI PARA A FRENTE" no dizer de esperançosa propaganda do terceiro governo da
Revolução, pois tornara-se "UM PAÍS QUE VAI PARA A ESQUERDA", num lema mais adequado
às tendências dos homens do governo Geisel.


Todavia, essa mudança de direção da nau do Estado, essa guinada para a esquerda, não me
surpreendeu, porque o próprio presidente dissera-me, por duas vezes - a última de forma bem
categórica - não ser "infenso às esquerdas". A esta mesma ilação chegou o jornalista Castello Branco
em artigo no jornal do Brasil. Os fatos, lamentavelmente, vêm confirmando essas asserções.


Alguns jornalistas, valendo-se de informações colhidas em fontes consideradas, por eles, de
responsabilidade e, portanto, julgadas dignas de crédito, regalaram-se em divulgar, diariamente,
versões e fatos estapafúrdios como se verdadeiros fossem. Muitas "reportagens" traziam em seu bojo
dados reais - que só poderiam ter sido fornecidos por homens do governo - habilidosamente
mesclados com falsidades, balburdiando a narrativa dos acontecimentos e procurando dar-lhes um
cunho de veracidade, num embuste que a preguiça mental de muitos não permitiu revelar e a
maledicência espalhou sadicamente, aos quatro ventos.


O "golpe militar'; calúnia engendrada pelo grupelho do Palácio e capciosamente propagada por
seus comparsas, tomou conta das colunas jornalísticas, das quais a emoção e a irresponsabilidade de
seus autores exilaram a verdade.


Essa ridícula versão, implícita na mentirosa nota lida por Hugo Abreu, vem sendo destruída,
implacavelmente, pelo tempo e maquiavelicamente esquecida pelos que a inventaram.


Conhecido jornalista, irrefletidamente, encampou-a, declarando que meus amigos "estariam
empenhados numa frustrada conspiração militar"; luminosa conclusão que foi colher na minha nota.
Se vivo fosse, Jerônimo de Praga não perderia a oportunidade de repetir: Sancta simplicitas!t


Ninguém poderá provar que eu tenha praticado ato ou proferido uma palavra sequer nesse
sentido. A escalada esquerdista era assunto que muito preocupava os militares, em particular os do
Alto Comando, todavia, nas apreciações que fazíamos, jamais teria consentido ocorressem críticas -
o que aliás nunca aconteceu - à autoridade do presidente e à dos ministros.


Contudo, sabia, por afirmarem os órgãos de informações, que as intrigas urdidas contra mim no
Planalto contavam com a participação valiosa dos mais hábeis tecelões da Casa Civil presidencial e
do SNI, entre os quais eram citados os seus chefes.


Como, então, homens de imprensa que alardeiam o privilégio de informar honestamente sobre os
acontecimentos calcam suas notícias somente em fontes unilaterais?


Duas explicações, entre muitas, podem ser aventadas para tal comportamento - ou os jornalistas
eram partidários incondicionais dos habitantes do Planalto e tentavam, de todas as formas, prestigiá-
los, embora à custa da verdade, ou reagiam contra o homem que teve coragem de atacar publicamente

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