Quando, em minha nota, acusei o governo e seus auxiliares de estarem facilitando a infiltração
comunista, não fazia especulações, visto que baseava a incriminação em fatos incontestáveis. Dentre
eles posso selecionar os mais significativos:
- A circunstância de o Presidente da República ter declarado - por duas vezes - as suas simpatias
pelas correntes de esquerda; - A afirmação feita, em abril de 1975, por Francisco Julião Arruda de Paula - advogado
comunista cassado - em conferência que realizou no México sobre o tema "Los pueblos de America
Latina contra el Fascismo". Disse ele, ao responder pergunta de um estudante sobre a possibilidade
de Geisel mudar a fisionomia do Brasil: "Passei ame convencer que tal sucederá, pois inclusive
Geisel já está contando com a colaboração de elementos nossos, em certos ministérios."
Após a minha exoneração, o presidente Geisel veio a reafirmar essa tendência para a esquerda
ao cumprimentar ostensivamente o sr. Jorge Wilheim - Secretário de Economia e Planejamento do
Estado de São Paulo -, cujo nome constava da relação de elementos comunistas infiltrados na
administração pública, enviada por mim ao SNI. Essa atitude correspondeu a um salvo-conduto para
que a infiltração marxista prosseguisse, além de significar um desapreço pelas informações oficiais
dadas sob a responsabilidade do Exército.
O renomado jornalista, contudo, sagazmente ressalta essa inclinação ideológica quando assegura,
em 24 de outubro de 1977, em trecho de sua "Coluna do Castelo" que - para comodidade do leitor -
volto a transcrever:
Vale a pena, a esta altura, aludir à caracterização do governo Geisel como governo de centro-
esquerda, embora isto espante alguns leitores. A carta do general Sylvio Frota confirmou por
contradição a referida caracterização feita originariamente por personalidades oficiais e
gratamente referendada por figuras altamente situadas no esquema dominante.
Este diagnóstico perfeito, no entanto, parece colidir com uma advertência, que faz algures -
provavelmente, à lembrança dos marxistas - de que eu acusara, de modo geral, o governo Geisel de
cúmplice "na gradativa comunização do Brasil".
Num de seus artigos procura escarnecer da denúncia sobre a infiltração comunista, ao passo que
noutro reconhece lançar-se o governo para a esquerda. Vejo nessa incoerência apenas o parcial
desejo de condenar a minha imputação, porquanto não ignora o comentarista que a centro-esquerda é,
sistematicamente, o primeiro degrau da escada que, a médio ou longo prazo, leva ao patamar do
comunismo.
Julgo desnecessário e fatigante continuar na série de adulterações de que a imprensa foi
instrumento, porque as mencionadas bastam para convencer os homens de bem de quanto são
tendenciosas muitas notícias publicadas. Todavia, abro exceção para a intencional e vergonhosa
deturpação feita pela revista Veja, de 13 de fevereiro de 1980, na entrevista que concedeu o coronel