O grupelho do Planalto parece ter acolhido com simpatia esta tese, pois adotou-a
invariavelmente na luta pelo poder, quando falhavam as tentativas de conciliação com base em
tentadoras promessas e veladas ameaças.
Da coerência dos homens do governo com esta linha de ação há exemplos em abundância;
contudo, desejo abordar unicamente os que se relacionam - direta ou indiretamente - à minha pessoa.
Sob o primeiro aspecto, merecem destaque a censura telefônica e o controle da correspondência
escrita, que severamente sofri desde os primeiros momentos de minha exoneração. Meu telefone
residencial ficava bloqueado horas a fio e, quando livre, a escuta era permanente. Amigos leais
avisaram-me desta ominosa fiscalização que os fatos diariamente comprovavam.
Uma senhora idosa - minha madrinha de batismo - conseguiu uma brecha e estabeleceu ligação.
Atendi o telefonema e não reconheci, de início, a sua voz nervosa e pouco audível. Procurando
identificar-se, disse todo o seu nome, que foi divulgado, no dia seguinte, pela imprensa, sem que do
fato se desse conhecimento a ninguém. Telefonemas eram respondidos, como se fossem empregados
meus, esclarecendo que estava passando a semana em Petrópolis etc.
Meu filho - oficial de Marinha -, morador em bairro próximo do meu, telefonou-me e recebeu
esta informação falsa. Indignado reagiu, declarou quem era e que estivera comigo momentos antes.
Perturbado, o censor cortou a ligação.
É interessante elucidar, àqueles que desconhecem o mecanismo da censura telefônica, que esta é
automaticamente praticada, dispensando a presença de qualquer censor. As gravações obtidas,
ininterruptamente, dia e noite, são levadas a analistas encarregados de interpretá-las. Não há,
portanto, exigência de um censor junto do telefone controlado; todavia, o que se desejava era a
difusão de notícias falsas, objetivando sua divulgação na imprensa e, também, com maior interesse,
isolar-me de meus colegas e amigos.
Oficiais de minha turma da Escola Militar do Realengo, que vieram, nos fins de 1977, para o
encontro anual de confraternização, telefonaram-me, porém não me acharam. Estava veraneando - no
dizer velhaco do censor - numa cidade serrana!
Surpreenderam-se com minha presença na reunião, mas foram bem informados sobre a realidade
dos fatos, o que os deixou perplexos.
Informações, pesadas e repesadas, oriundas de fontes insuspeitas, davam e dão como
responsável por este abjeto procedimento um oficial superior que, desde 1965, quando comandei a
4á Divisão de Cavalaria, recebeu de minha parte toda a consideração e apoio, sendo praticamente
incluído no grupo dos oficiais de minha confiança. Sob meu aval, um nobre e leal amigo incluiu-o em
seu Estado-Maior e levou-o para a sua Região Militar, no Leste brasileiro. Este homem - alma de
beleguim sob a farda de oficial de Artilharia - foi, ainda consoante aquelas informações, quem, por
conhecer meus hábitos e os de minha família, aceitou a ignóbil tarefa de devassar a minha vida.