IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Mostra o escritor Mario Puzo, em seu livro O poderoso chefão, que os mafiosos, quando
desejam destruir seus inimigos, vão buscar entre os homens de confiança destes os elementos que
lhes facilitem a tarefa. É uma questão de preço e oportunidade, no entanto é um método que não tem
falhado.


Não ouso aconselhar a leitura dos livros que versam sobre a máfia, mas seria interessante, para
os que pretendem escudar-se contra as falsidades e velhacarias de nossa época, que seja feita.


Nos dias que se seguiram à demissão, exerceram as autoridades rigorosa proibição sobre o
encaminhamento da correspondência telegráfica que me era dirigida. Do estado de São Paulo um
cidadão trouxe-me a denúncia e a cópia do telegrama que, de ordem superior, o funcionário recusara
a transmitir. Um major meu amigo precisou ir à direção da agência de correios local para conseguir
fosse enviado seu telegrama.


Minhas cartas extraviavam-se, criando dificuldades com os remetentes que, mais tarde,
estranharam ausência de resposta à solidariedade que me prestaram. Recebi-as, de um modo geral,
bisonhamente violadas.


O meu amigo Carlo Barbieri, empresário paulista, escreveu-me certa ocasião fornecendo-me
algumas informações relativas à comunidade chinesa. Dias depois de ter remetido a carta, encontrou-
se com o tenente-coronel de Artilharia Bismark Baracuhy Amâncio Ramalho, oficial que servira
comigo no gabinete ministerial, na gestão Lyra Tavares. Falou-lhe, então, Bismark sobre assuntos
contidos naquela correspondência, o que levou Barbieri a perguntar-lhe se tinha estado comigo.


Respondendo negativamente, o tenente-coronel viu-se obrigado a esclarecer por que conhecia a
matéria da carta e a confidenciar-lhe as ordens do presidente Geisel para que toda a minha
correspondência suspeita fosse aberta e fotografada.


E, lá diz o inócuo parágrafo 90, do artigo 153, da nossa Constituição Federal: "É inviolável o
sigilo de correspondência e das comunicações telegráficas e telefônicas."


O cerceamento de minha liberdade, pelo menos nos termos do artigo 153 já citado, era e continua
sendo patente e inegável. Esbirros da polícia - prejudicados nos disfarces pela arrogância habitual -
e agentes do SNI - muitos dos quais eu conhecia - realizavam e realizam "discreta" vigilância de
minha residência, no intuito claro de atemorizar os visitantes.


Um general que se dizia, "nos áureos tempos", meu incondicional admirador, ao receber
comunicação de seu ajudante-de-ordens - oficial brioso e idealista - de que iria ao Rio de janeiro
visitar-me em minha casa, tentou modificar a decisão do capitão dizendo-lhe que "ali - em minha
residência - estavam ocorrendo coisas inacreditáveis".


O altivo capitão da gloriosa Arma de Sampaio respondeu: "Não estou pedindo autorização ao
senhor para visitar o general Frota, estou avisando que irei visitá-lo!"

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