Como vemos, nem tudo está perdido!
Na primeira quinzena de dezembro de 1977, o Ministro do Exército decidiu privar-me do
serviço de segurança que desfrutava, mandando retirar todos os praças do Exército que o faziam.
Recebi esta comunicação através de documento, remetido pelo Comandante do 1 Exército, no qual
eram concedidos três dias para a execução da ordem ministerial. No mesmo dia e momento
dispensei-os.
Esta decisão do Ministro do Exército merece alguns comentários à guisa de esclarecimentos.
Havia, na época em que exerci o cargo de ministro, dois ilustres chefes militares que dispunham
de uma sólida segurança pessoal - os generais-de-exército Emílio Garrastazu Médici e Orlando
Geisel.
Homens, a quem a Pátria deve relevantes serviços, combateram com ardor e convicções
democráticas a pertinaz ameaça comunista, sendo por isso alvo de toda a odiosidade marxista.
Mantive essas seguranças, não somente pela preocupação de preservá-los, como pelo profundo
respeito que lhes devotava como dos maiores chefes militares que possuímos.
O general Médici, em determinada ocasião, telefonou-me para lembrar que a sua segurança
poderia ser dispensada, sugestão que não acolhi.
O Exército tinha a obrigação de zelar por dois chefes revolucionários que, integralmente
identificados com a Revolução de 1964, defendiam corajosamente seus princípios.
A decisão do general Bethlem, em dezembro de 1977, atingiria, portanto, os dois generais
citados e, também, a mim. Soube que a ordem foi extensiva a todos, todavia, tive conhecimento,
outrossim, de que só fora executada em relação ao exministro Frota. Nada mais justo do que manter a
segurança daqueles generais que dela precisavam, no entanto foi uma discriminação torpe, se tal
aconteceu, com minha exclusão.
Em abril de 1978, um único oficial, que ainda estava ligado ao ex-ministro Frota, para efeitos de
segurança, foi por ordem do ministro Bethlem apresentado ao 1 Exército; entretanto, no dia seguinte
ao da comunicação, o boletim da própria grande unidade, transcrevendo rádio do gabinete
ministerial, autorizou, até julho daquele ano, a permanência do capitão de Artilharia que assistia o
general Orlando Geisel. Nada mais justo, repito; ele o merecia.
Este fato mostra-nos a veracidade da "discriminação torpe> a que aludi,
Como se explica essa conduta de ter dois pesos e duas medidas, seguida pelo general Bethlem?
Informações de Brasília garantiram que durante um despacho, em dezembro de 1977, o
presidente Geisel interrogara o ministro Bethlem sobre a conservação de minha segurança.
Recebendo resposta positiva irritara-se e dissera: "Tire tudo do Frota, até o automóvel."