Como poderia o ministro Bethlem, general que devia o cargo à bondade do presidente, discordar
do homem que tanta indulgência tivera com ele?
Acontecia, porém, que o carro de passeio era meu e a segurança pessoal era imposição do cargo,
estabelecida para os ministros, objetivando mais resguardálos de inconvenientes abordagens de
indivíduos desconhecidos do que impedir atentados. Estes são inevitáveis, quando o homem ou
homens que o planejam desprezam a vida e estão decididos a morrer. A História, através de
numerosos exemplos, homologa esta asserção.
A persistência nesse objetivo, para usar a linguagem militar, tem sido perfeita. Em setembro de
1979, praticamente dois anos após ter deixado o Ministério, fui à cidade de Sobral - no estado de
Ceará -, berço da família de meu pai, a fim de receber honrosa distinção, expressa no título de
cidadão sobralense. Chegando ao aeroporto de Fortaleza, fui acolhido pela minha numerosa família,
sempre solidária comigo. No salão do aeroporto, lotado, não vi nenhum dos amigos militares que
serviam na 1o- Região Militar, fato que não estranhei e que atribuí a causas normais. No entanto, vim
a saber, posteriormente, que alguns oficiais pretenderam aguardar o meu desembarque, não o tendo
feito em virtude de o comandante daquela Região, general Alacyr Werner, ter proibido o
comparecimento, mesmo em trajes civis.
Recebi, ainda em Fortaleza, essa lamentável notícia, trazida por fontes militares que, embora
idôneas, não me convenceram completamente. O general em apreço, anos atrás, tinha sido oficial de
meu gabinete e era dos que, ao ver-me, abria um largo sorriso seguido de untuosas afetações de
estima. Se praticou tal fraqueza - façamo-lhe justiça - agiu sob pressões, visto que seu feitio
habilidoso não lhe dava ânimo para tanto.
Muito mais digno e desassombrado foi o procedimento do governador Virgílio Távora, meu
colega de turma na Escola de Estado-Maior, que mandou o seu Chefe da Casa Militar apresentar-me
votos de feliz estada no Ceará. Pelo que sei, até hoje, não se desprestigiou nem perdeu o cargo com
esse corajoso gesto.
A antiga Delegacia da Ordem Política e Social, logo após o dia 12 de outubro de 1977, passou a
considerar o ex-Ministro do Exército - general-de-exército Sylvio Couto Coelho da Frota, como um
elemento pernicioso à ordem vigente, digno de ser incluído no fichário dos subversivos, ao lado de
assaltantes de bancos, assassinos e terroristas.
Cumprindo determinação superior, o Delegado de Polícia José Nicanor de Almeida, Diretor-
Geral da Diretoria Geral de Investigações Especiais, em que foi transformada aquela Delegacia,
mandou abrir uma ficha para o ex-ministro Frota. O delegado Almeida é considerado homem da
esquerda ideológica e pertenceu ao gabinete do general Chrisanto Figueiredo, o que dá certa
consistência à pecha de esquerdista.
Todas estas informações foram-me fornecidas por elementos da polícia que tiveram acesso aos