IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Alto Comando e, segundo constou, sob habilidosa pressão do ministro Bethlem. Soldado de brio, não
aceitou a decisão e pediu transferência para a reserva. Coincidentemente, neste mesmo dia, outros
generais foram preteridos pelo general-de-divisão João Figueiredo, mas não tiveram idêntica
sensibilidade militar e conformaram-se, aguardando nova oportunidade.


O general-de-brigada Lauro Rocca Dieguez, puro e destemido revolucionário, com excelentes
serviços prestados à Pátria, porém irreconciliável inimigo da corrupção e das idéias de esquerda,
teve o seu nome ultrapassado. Nas considerações apresentadas por elementos do Alto Comando
estava a de que dera apoio ao ministro Frota, no dia 12 de outubro. Devem ter concorrido
decisivamente para esta indignidade as gravações entregues ao SNI por um general e superior seu,
sobre telefonema que o próprio denunciante dera a Dieguez, interrogando-o, no dia da demissão,
sobre o seu procedimento, fato já descrito anteriormente.


Soldado altivo, não se conformou Dieguez com a injustiça e solicitou transferência para a
reserva.


O general-de-brigada José Alberto Pinheiro da Silva, por ter comparecido ao meu gabinete para
receber ordens, dando um exemplo de coragem e lealdade, que os seus superiores do Alto Comando
não tiveram, quando se acoitaram no palácio do Planalto, ficou marcado e também foi preterido.


Poderia citar muitos outros fatos da mesma espécie, atingindo oficiais de menores postos,
contudo limito-me a mencionar o do coronel de Infantaria Cid Noli, profissional capaz, caráter
adamantino, revolucionário sincero que só tinha um defeito - servira com o general Frota, desde
1965, na guarnição de Campo Grande, não ocultando a ninguém - pois sua lealdade não permitia -
que era meu amigo. O Alto Comando cortou-lhe o acesso, porém, estou certo de que se eu ainda fosse
ministro, a "perspicaz visão" desse órgão o teria colocado entre os primeiros da lista e, talvez, eu
recebesse felicitações por ter como amigo aquele brilhante oficial.


O consenso de que os meus amigos, fosse qual fosse o seu valor, tinham caído no desagrado do
governo era geral. Em vista disso não seria conveniente, aos que pretendiam incensar os homens do
palácio do Planalto, tratá-los bem ou mesmo falar-lhes.


Um general, hoje de quatro estrelas, que fazia alarde de minha amizade e adulava os oficiais de
meu gabinete, a quem apoiei em momentos difíceis, conduzindo-o no avião executivo ao Rio para
visitar seu pai enfermo, que se babava com os doces elogios dirigidos ao ministro Frota, ao sair,
depois do dia 12 de outubro, de um elevador no antigo Quartel-General do Exército, deu de chofre
com o meu ex-ajudante-de-ordens. A decisão, coerente com o seu caráter, foi imediata: virou o rosto
e lançou-se rápido noutra direção.


Estava no caminho certo para a promoção que, afinal, conquistou pelos seus méritos!

O general Alfredo Américo da Silva é um oficial de destacados valores moral e técnico. Em
1930, servia no 20 Regimento de Cavalaria Independente, localizado em São Borja. Não aderiu à

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