IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Os chefes militares, ainda obsedados pela idéia de legalidade, tentaram ingenuamente fazer
aprovar pelo Legislativo um ATO, que seria CONSTITUCIONAL, objetivando àquele saneamento.


Durante nove dias o Congresso marombou em evasivas, esquivando-se de sancionar o
documento. E não o faria, porquanto atingiria, caso o fizesse, numerosos congressistas. Ficava, deste
modo, o Movimento Militar em posição falsa de descrédito e aparente debilidade.


Como se poderia acreditar no poder de um movimento armado vencedor, quando um de seus
chefes de maior prestígio via sua indicação para a Presidência da República sujeita a manobras de
astutos políticos? Homens públicos de nomeada ensaiaram colocar um civil no lugar de João Goulart
e, neste sentido, convites foram feitos ao governador Magalhães Pinto pelos ex-presidente Juscelino
Kubitschek e governador Carlos Lacerda, recusando-se Magalhães Pinto, por questões de princípios,
a aceitar.'


Uma Revolução de verdade não se submeteria a esse vexame. Agindo em missão do povo,
empossaria seu chefe pela força. Assim sucedeu, em 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas.


A situação tornara-se confusa, politicamente indefinível. Se era um golpe de Estado, por que
essa interferência de um Comando Revolucionário espúrio, impondo decisões a um Congresso e a um
presidente que os próprios chefes militares reconheceram, preservando o primeiro e empossando o
último?


Se não era um golpe de Estado, mas sim, uma revolução, cuja primeira conseqüência jurídica
seria a quebra da legalidade, por que esses recatos em agir, quando na realidade o Comando
Revolucionário representava o único poder existente?


Assistíamos ao triste paradoxo de ver o poder vencedor humilhar-se ante o poder vencido!

Nessas circunstâncias, o Comando Revolucionário, abandonando os pruridos de legalidade, fez
compreender que o único poder era o seu, outorgando o ATO INSTITUCIONAL N° i. Nascia, assim,
a nossa Revolução, legitimada por essa peça histórica, que foi o seu primeiro instrumento jurídico.
Num rasgo corajoso e patriótico transformou-se o golpe de Estado em Revolução.


Mas uma revolução não é produto de geração espontânea, nem surge de um lance de habilidosa
prestidigitação.


O Movimento de março, não tendo vindo a cavaleiro de uma doutrina que lhe desse uma estrutura
e rumos precisos, preocupado mais em solucionar dificuldades imediatas, postergando uma real
visão do futuro, cujos problemas obstinava-se em não encarar, agora convertido em Revolução, o seu
primeiro vagido, que a custo soltou, foi muito débil.


O ATO INSTITUCIONAL, do meu ponto de vista, deveria ter sido mais amplo e, valendo-se do
impacto emocional, bem como da boa acolhida do povo, mais rigoroso e profundo.

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