O Estado de São Paulo (2020-03-04)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2020 Internacional A


SANTIAGO


Os manifestantes chilenos reto-


maram as ruas de Santiago em


novos episódios de violência.


Os confrontos com a polícia le-


varam 283 pessoas à prisão e dei-


xaram 76 policiais feridos.


O transporte público da capi-


tal foi temporariamente inter-


rompido. Os protestos contra o


presidente, Sebastián Piñera,


começaram em outubro passa-


do e provocaram a maior crise


social desde a redemocratiza-


ção do país, em 1990.


Os atos foram convocadas
para o primeiro dia após as fé-
rias de verão dos chilenos. Des-
de a tarde de segunda-feira, mi-
lhares de manifestantes se reu-
niram na Praça Itália, no cen-
tro de Santiago.
Alguns dos que foram às ruas
forçaram a interdição do me-
trô, de linhas de ônibus e atea-
ram fogo em material inflamá-
vel para formar barricadas nas

ruas. As cidades de Antofagas-
ta, Temuco e Concepción tam-
bém registraram confrontos.
Os distúrbios seguiram pela
madrugada adentro até a ma-
nhã de ontem.
Pelo menos 15 estações ferro-
viárias da região metropolitana
de Santiago também fecharam
as portas. As principais estra-
das que dão acesso à capital
mostravam ontem resquícios
das manifestações, com semáfo-
ros no chão.
O ministro do Interior, Gon-
zalo Blumel, informou que vá-
rias delegacias foram atacadas.
“Durante a noite, o que vimos
foi crime, pura e simplesmen-
te”, afirmou o ministro. “A cida-
de funcionou, as pessoas pude-
ram realizar suas atividades.
Mas à tarde e à noite houve vio-
lência. São atos de violência que

nada têm a ver com demandas
sociais”, afirmou.
Os protestos no Chile come-
çaram com o aumento das tari-
fas do metrô de Santiago. No en-
tanto, rapidamente se transfor-
maram em uma reivindicação
de reformas sociais em um país
em que a educação, a saúde e a

previdência são, em grande par-
te, privadas. Desde então, 31 pes-
soas morreram e milhares fica-
ram feridas. Piñera decretou es-
tado de emergência após o iní-
cio dos protestos, levando os
militares às ruas pela primeira
vez desde o fim da ditadura de
Augusto Pinochet, que durou

de 1973 até 1990.
O presidente chileno tem si-
do pressionado a expandir a
agenda de reformas sociais de
seu governo, desde o auge da cri-
se social, no ano passado. Entre
as concessões está a possibilida-
de de ser promulgada uma nova
Constituição – um plebiscito so-
bre o tema foi marcado para o
dia 26 de abril.
A campanha começou na se-
mana passada e parte das legen-
das da coalizão de centro-direi-
ta de Piñera é contra a substitui-
ção da Carta.
A violência diminuiu em ja-
neiro e fevereiro, quando a
maioria dos chilenos estava em
férias. Agora, porém, um inten-
so calendário de manifestações
circula nas redes sociais, com
protestos marcados para quase
todos os dias de março.
Uma das marchas será organi-
zada no domingo, Dia Interna-
cional da Mulher. As feministas
devem se unir nos protestos
aos grupos indígenas, ambien-
talistas, sindicatos e estudan-
tes. / AP, AFP e REUTERS

WASHINGTON


O crescente estoque iraniano


de combustível nuclear ultra-


passou um limite crítico, de


acordo com um relatório di-


vulgado ontem por inspeto-


res internacionais. Pela pri-


meira vez, desde que o presi-


dente dos EUA, Donald


Trump, abandonou um acor-


do nuclear firmado em 2015 e


que ele descartou em 2018,


Teerã parece ter urânio enri-


quecido o suficiente para pro-


duzir uma arma nuclear.


A Agência Internacional de


Energia Atômica (AIEA) afir-


mou se tratar de algo preocu-


pante, mas pondera que a pro-


dução de uma ogiva poderia de-
morar anos, assim como a capa-
cidade de atingir outros países
com o explosivo.
A agência, que monitora as ca-
pacidades nucleares e se repor-
ta às Nações Unidas, disse que o
Irã impediu seus inspetores de
visitar três locais onde havia evi-
dências de atividades dessa na-
tureza. O recém-nomeado dire-
tor do órgão, Rafael Mariano
Grossi, um diplomata argentino
que passou a maior parte de sua
vida trabalhando em questões nu-
cleares, disse que é urgente que
“o Irã coopere imediatamente
com a agência”, permitindo o
acesso aos locais e respondendo a
perguntas sobre “possíveis mate-

riais nucleares não declarados e
atividades relacionadas à produ-
ção nuclear”.
A decisão de Trump – de aban-
donar o que chamou de um acor-
do “terrível”– surtiu um efeito
não desejado pelos EUA. O Irã
deixou de cumprir os rígidos li-
mites do pacto sobre a produ-
ção de urânio para começar a
reconstruir seu estoque.
Os líderes iranianos parecem
ter permitido à AIEA documen-
tar essas violações. “A situação é
um paradoxo”, disse Grossi, em
uma recente entrevista em
Washington, a primeira desde
que assumiu a agência. “O que es-
tamos verificando é a gradual di-
minuição do cumprimento do

acordo”, afirmou.
Números da agência sugerem
uma realidade preocupante. Em
2016, o Irã enviou para fora do
país 97% de seu estoque de com-
bustível de urânio, o suficiente pa-
ra produzir mais de 14 armas. Em
2018, fabricou bem menos que o
necessário para a produção de
uma bomba nuclear, se limitan-
do a obter um estoque de cerca
de 300 quilos. Mas agora, no seu
esforço para pressionar a Euro-
pa a dar fim às sanções econômi-
cas que foram impostas pelos
americanos, o Irã está de volta à
carga.
Os números do relatório de
ontem, que foi enviado aos 171
países membros da agência,

mostram que o país ultrapas-
sou a produção de mil quilos de
combustível de urânio enrique-
cido em um porcentual de 4,5%.
Se enriquecer ainda mais, para
90%, conforme a agência, isso
seria o suficiente para produzir
uma arma nuclear.

“É preocupante”, disse o presi-
dente do Instituto de Ciência e
Segurança Internacional, David
Albright. “Não esperávamos que
o Irã estivesse alcançado a marca
de mil quilos”, afirmou.
“Tudo o que estamos fazen-
do é reversível”, disse Moham-
mad Javad Zarif, ministro das
Relações Exteriores do Irã, na
Conferência de Segurança de
Munique, na Alemanha, no
mês passado.
“Sempre dissemos que não
estamos interessados em cons-
truir armas nucleares”, afir-
mou o ministro iraniano.
A Casa Branca não comentou
ontem o relatório da agência
nuclear. / NYT

lConfrontos


Após férias, manifestações no


Chile acabam com 283 presos


lEm alta


76
policiais ficaram feridos
ontem, após a retomada dos
protestos no Chile. Desde
outubro, a violência
deixou 31 mortos e
milhares de feridos

ESTEBAN FELIX/AP

Crise social e onda de


violência assombram de


novo a gestão Piñera,


que iniciou plebiscito para


uma nova constituição


Barricada. Chilenos em confronto com a polícia em Santiago


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300 quilos
de urânio enriquecido era o limite
que o Irã havia atingido em meio
ao acordo nuclear. Agora, diz re-
latório de agência que monitora a
atividade dos países, esse total
passou de 1 mil quilos

Irã amplia produção nuclear, diz agência


Relatório de órgão que monitora países aponta que iranianos aumentaram enriquecimento de urânio após EUA deixarem acordo mundial

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